Adoro testes. Estas perguntas
foram feitas com base em situações reais. E as respostas também.
1)
Concorda que pessoas sejam torturadas pela polícia, em delegacias ou dentro de
camburões, para confessarem crimes que talvez nem tenham cometido?
( ) Não. Pela lei, as pessoas são inocentes até que se prove o contrário.
( ) Não. Pela lei, as pessoas são inocentes até que se prove o contrário.
( ) Sim. Se alguém está sendo
torturado pela polícia, algum crime deve ter cometido.
2)
Acredita que um jornalista deva ser obrigado a revelar a identidade de uma
fonte usada em uma apuração após a Justiça, atendendo a um político que se
sentiu ofendido pela revelação, assim ordenar?
(
) Não. O direito ao sigilo de fontes é protegido pela Constituição Federal e é
um dos pilares de nossa liberdade de imprensa.
( ) Sim. Não é função de pessoas honestas questionar decisões judiciais.
( ) Sim. Não é função de pessoas honestas questionar decisões judiciais.
3)
Considera que, em nome da implantação de uma usina hidrelétrica que vai gerar
energia para cidades distantes dali, uma população rural deva ser expulsa, sua
qualidade de vida destruída e seu meio ambiente alterado sem que ela seja
devidamente ouvida?
(
) Não. O Brasil é signatário de convenções internacionais que garantem que a
população afetada seja ouvida antes do projeto começar.
( ) Sim. A qualidade de vida de milhões se sobrepõe à de alguns milhares.
( ) Sim. A qualidade de vida de milhões se sobrepõe à de alguns milhares.
4)
Concorda que uma operação de resgate de escravos seja suspensa pela Justiça
após o fazendeiro afirmar que ficar sem aquela mão de obra no momento crucial
da safra poderia render severos prejuízos?
(
) Não. Trabalho escravo é crime previsto no Código Penal brasileiro e proibido
por tratados internacionais.
( ) Sim. Melhor a pessoa ter o que comer e onde dormir do que nada. E uma empresa não pode sofrer nas mãos de procuradores e auditores fiscais do trabalho que enxergam escravidão em todo o lugar.
( ) Sim. Melhor a pessoa ter o que comer e onde dormir do que nada. E uma empresa não pode sofrer nas mãos de procuradores e auditores fiscais do trabalho que enxergam escravidão em todo o lugar.
5)
Em nome do combate contra a violência e pela segurança da sociedade, o
poder público pode adotar uma política diferenciada pela cor de pele, origem
social ou lugar de residência, prender e manter presas pessoas sem provas ou
entrar em casas sem mandados judiciais?
(
) Não. A política de segurança pública não pode passar por cima de direitos
fundamentais sob o risco do Estado se tornar aquilo que quer combater.
( ) Sim. Para garantir a segurança da população, alguns sacrifícios devem ser feitos.
( ) Sim. Para garantir a segurança da população, alguns sacrifícios devem ser feitos.
6)
Você considera que grampos e escutas telefônicos captados e/ou divulgados de
forma ilegal podem ser usados como provas em processos
quando são indícios reais de irregularidades?
(
) Não. Resolver o crime é importante, mas mais importante é garantir que as
liberdades individuais não sejam rasgadas no meio do caminho a ponto de
vivermos em um clima de medo eterno do próprio Estado.
( ) Sim. Em nome de resolver um crime, todos os meios devem ser usados. Em nome de um bem maior, a legalidade e o direito são um detalhe, uma tecnicalidade.
( ) Sim. Em nome de resolver um crime, todos os meios devem ser usados. Em nome de um bem maior, a legalidade e o direito são um detalhe, uma tecnicalidade.
Não vou dar respostas para o teste.
Deixo apenas uma reflexão de Boaventura de Sousa Santos, diretor do Centro de
Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, em Portugal, e professor da
Universidade de Wisconsin-Madison, nos EUA, e da Universidade de Warwick, no
Reino Unido.
Segundo ele, sacrificamos direitos no
dia a dia, construindo uma espécie de “totalitarismo a conta-gotas''. Ferimos a
democracia no nosso cotidiano, aparentemente em nome dela. Mas esses “fins''
que “justificam os meios'' são construções idealizadas baseadas em modelos
restrito de sociedade”. A simples tarefa de fazer coincidir os meios
com os fins, hoje, já ganha um caráter utópico, dado esse gritante descompasso.
Então, a pergunta correta talvez não
seja “Os fins justificam os meios? '' Mas “Quem determina e escolhe
esse 'fins' e quem se estrepa com os 'meios'?''
Texto
do jornalista e Doutor em Ciências Políticas Leonardo Sakamoto publicado no
Site UOL.
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