Temos toda a razão de bater panelas
quando a presidente aparece na TV dizendo que a culpa por nossa pindaíba é da
crise internacional. Mas por que não batemos panelas quando Eduardo Cunha, o
líder dos "black blocs" brasileiros, vândalo que faz política com
pedras, bombas e coquetéis molotov, vai em rede nacional dizer que trabalha
"para o povo", "sempre atento à governabilidade do país"?
Temos toda a razão de bater panelas
contra a corrupção da Petrobras. Mas por que não batemos panelas contra o
mensalão mineiro ou o cartel do metrô paulistano? Por que não batemos panelas
contra a compra de votos para a reeleição do FHC? Por acaso pagar apoio na Câmara
é mais grave do que pagar emenda na Constituição?
Temos toda a razão de bater panelas
contra o retrocesso econômico de 2015. Mas como podemos não bater panelas
contra o anel de pobreza que desde sempre engloba as metrópoles brasileiras,
essa Faixa de Gaza de tijolo aparente, essa Cabul de laje batida onde se
amontoa boa parte da população?
Temos toda a razão de bater panelas
quando o governo se cala diante dos descalabros venezuelanos e da ditadura
cubana. Mas por que não batemos panelas diante do fato de nosso principal
parceiro comercial ser a China, maior ditadura do planeta? O tofu que alimenta
aquela tirania é feito com a nossa soja e os fazendeiros, ruralistas e
empresários que acusam a "venezualização" do Brasil são os mesmos que
lucram com o dinheiro comunista. Ninguém bate woks por causa disso?
Temos toda a razão de bater panelas
contra o estelionato eleitoral do PT. Mas por que não batemos panelas contra o
estelionato eleitoral do PSDB, que elege repetidamente um governador tipo
"gerente", prometendo "e-fi-ci-ên-ci-a" em cada sílaba, mas
coloca São Paulo à beira do co-lap-so-hí-dri-co"? Um cristão cuja polícia,
não raro, participa de grupos de extermínio, na periferia. Esta semana, foram
18 chacinados em Osasco e Barueri. Imagina se fosse no Iguatemi? E o
estelionato das UPPs, no Rio, que prometem paz, mas torturam um cidadão até a
morte e somem com o corpo?
"Não, não, isso não! Me mata, mas
não faz isso comigo!", gritava o Amarildo, segundo um policial que
testemunhou a barbárie, dentro de um contêiner. Como pode a nossa maior
preocupação em relação ao Rio, hoje, ser com a qualidade das águas para as
Olimpíadas de 2016? Cadê o Amarildo? Cadê as panelas?
Temos toda a razão de sair pra rua,
neste domingo, para protestar contra a incompetência, a corrupção e a burrice
do governo. Mas por que não sair pra rua para protestar contra a incompetência,
a corrupção e a burrice do país como um todo? Um país que mata seus jovens,
sonega impostos, polui, compra carteira de motorista, licença ambiental, alvará,
dirige pelo acostamento, estupra, espanca e esfaqueia mulher (mas retira a
discussão de gênero do currículo escolar), um país onde os negros correspondem
a 15% dos alunos universitários e a 67% da população carcerária.
Este ódio cego, esta parcialidade hipócrita,
este bombardeio cirúrgico que pretende eliminar o PT –e só o PT– para
"libertar o Brasil", empoderando Renan Calheiros e Eduardo Cunha, não
é o desabrochar da consciência cívica, é mais um fruto da nossa incompetência,
mais uma vitória da corrupção; palmas para a nossa burrice.
Autor: Antonio Prata - Texto publicado no Jornal Folha de SP em 16/08/2015.
Autor: Antonio Prata - Texto publicado no Jornal Folha de SP em 16/08/2015.
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