Quando as bandeiras dos partidos substituem
os valores de nossa consciência,
a vida e a inteligência naufragam.
Rute de Aquino
Em
1989, há 25 anos atrás o Brasil voltava a respirar democracia com a primeira
eleição livre para presidente da república, depois de uma ditadura militar que
havia cerceado o direito universal do voto do eleitor brasileiro por vinte e
quatro anos (1964-1988). O
país estava exultante com a oportunidade de poder eleger seu presidente nas
urnas, de forma livre, democrática e com opções variadas de candidatos
concorrendo por várias siglas.
Eram exatamente 22 candidatos no primeiro turno
da eleição presidencial. Eram
os seguintes os postulantes ao cargo: Affonso
Camargo – PTB, Afif Domingos – PL, Aureliano Chaves – PFL, Leonel Brizola –
PDT, Celso Brant – PMN, Fernando Collor de Mello – PRN, Correa – PMB, Enéas –
Prona, Eudes Mattar – PLP, Gabeira – PV, Livia Maria – PN, Lula – PT, Maluf –
PDS, Manoel Horta – PDC do B, Mário Covas – PSDB, Marronzinho – PSP, P.G. – PP,
Pedreira – PPB, Roberto Freire – PCB, Ronaldo Caiado – PSD, Ulysses Guimarães –
PMDB e Zamir – PCN.
Como
podemos perceber alguns candidatos já morreram, alguns partidos não existem
mais, outros mudaram de nome e alguns candidatos e partidos estão na vida
política até os dias atuais. Infelizmente
nunca mais tivemos uma eleição com tantas opções de candidatos e partidos
concorrendo no país para o cargo de presidente da república. Os partidos
preferem fazer coligações sem ideologia e sem pudor para depois conquistarem
cargos e poder.
Naquela
ocasião, o segundo turno da eleição teve Fernando Collor de Mello – PRN contra
Luis Inácio Lula da Silva – PT. O antagonismo e a diferença ideológica eram
enormes, assim como o apoio que o primeiro recebeu da mídia, dos mercados
econômicos e especulativos, da imprensa internacional e das elites englobando a
classe média brasileira.
Collor
conquistou uma fama mentirosa de ser caçador de marajás, numa alusão a sua
gestão como governador de Alagoas, quando empreendeu estrategicamente um
combate a alguns funcionários públicos que recebiam salários altos e
desproporcionais. Com vistas a angariar apoios na campanha presidencial que
estava por vir, a imprensa o tornou conhecido nacionalmente como "Caçador
de Marajás". Orientado por profissionais de marketing, anunciou com
estardalhaço a cobrança de 140 milhões de dólares dos usineiros do estado para com
o Banco do Estado de Alagoas, havendo diversas repercussões positivas na
imprensa.
Entre
uma disputa e outra teve o mandato ameaçado por uma tentativa de intervenção
federal no Estado (fruto da recusa em pagar os altos salários aos
"marajás" após a vitória destes em julgamento do STF). Também teve um
pedido de impeachment devido ao programa de enxugamento da máquina
administrativa alagoana, feito à base de demissões de funcionários públicos e
extinção de cargos, órgãos e empresas públicas.
Era
impossível encontrar alguém que não declarasse o voto em favor de Collor, não
por antipatia a Lula nem muito menos ao PT, um partido recém criado à época e
que tinha apoio dos trabalhadores, intelectuais de esquerda, parte da burguesia
e da juventude. Enquanto Collor era endeusado pela mídia, em particular pela
Rede Globo, Lula era crucificado de todas as formas possíveis.
Collor
venceu e no dia de sua posse implantou o Plano Collor que rende processos até
hoje, não resolveu o problema da inflação, não deu certo e trouxe enormes
dissabores a todos que nele votaram. Até a sagrada poupança foi golpeada em sua
credibilidade e muito anos foram necessários para recuperar a sua imagem de
investimento sólido e seguro.
Hoje
em dia nas redes sociais, nas ruas, no seio da classe média e das elites
dominantes ouvimos o nome de Aécio Neves como solução para tirar o PT do
governo. Ninguém lembra do governo FHC e da compra de votos para aprovação da
emenda da reeleição e das privatizações mal sucedidas e muito mal explicadas
até hoje.
O
ódio ao PT contaminou de tal forma uma parcela da sociedade que programas
assistenciais criados pelo PSDB, são exorcizados por que o PT os ampliou para
uma parcela maior das classes C, D e E.
Ninguém
se pergunta como foram os oito anos de governo de Aécio em MG? Que obras fez? O
que priorizou em seu mandato? Nada importa exceto tirar Dilma do poder.
Inclusive utilizando de mentiras, baixarias como distribuição de e-mails e
WhatsApp contendo falsas informações e tolices de toda ordem contra o PT e contra
Dilma. Falsos apoios de artistas sem o seu consentimento.
Depois
de seis meses da posse de Collor não se encontrava um único eleitor que
assumisse seu voto no manganão que acabou sendo tirado do poder através de um
impeachment orquestrado pelos mesmos que hoje estão ao lado de Aécio Neves.
Claro que, Aécio não é Collor, o PSDB não é o fraco partido de aluguel PRN, já
extinto, muitas são as diferenças entre as duas épocas. Hoje o PT é uma enorme
vidraça exposta a todo tipo de pedradas, principalmente em relação à corrupção
que nunca combateu.
O
futuro das eleições vai dizer se o vencedor em 2014 terá alguma relação com o
pleito de 1989 ou se foram apenas ilações de um eleitor cansado de ser enganado
e de ver o povo brasileiro cometer erros por falta de análises mais
consistentes e inteligentes na hora de suas escolhas.
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