O Brasil é um país de técnicos. De
botequim, sem nenhuma formação, naturalmente. Aqui, talvez, seja muito
simbólica a história das instruções que, contam, Vicente Feola, técnico do
Brasil na Copa de 58, na Suécia, teria dado para Garrincha. Segundo o folclore
ele teria dito que ganhar o jogo era fácil. Bastava passar a bola para
Garrincha que driblaria dois zagueiros russos e passaria a bola para alguém
fazer o gol. E Garrincha, a quem cabia às dificuldades da tarefa, perguntou,
com sua ingenuidade natural, se o técnico havia combinado com os russos...
No Brasil, infelizmente, a política (e
o governo também) se comporta de forma similar. Querem passar a dificuldade
para o outro. Driblar a realidade com o discurso. No país as decisões e as
prioridades parecem sempre fugir do real, parecem sempre desejar driblar o
possível, o desejável, a maneira simples e direta de tratar dos problemas. É um
país onde, apesar de ter conhecimento em muitas áreas, ainda se faz política
pública defendendo que é possível crescer, desenvolver sem educação e sem
investimento, via crédito e aumento de consumo. Onde se está sempre a pregar
uma fórmula mágica como a de que é possível incluir a população pobre,
retirá-la da pobreza sem criar crescimento, sem aumentar a produção, sem gerar
novos empregos, com bolsas que incentivam as pessoas a não trabalhar. É como
acreditar que se pode erguer um prédio sem alicerces. E o incrível é que, mesmo
com o prédio tendo caído, ainda aparece um documento de “intelectuais” dizendo
que a culpa é do engenheiro que chegou para retirar o entulho e tentar
reconstruir o que sobra...
É um país que tem um histórico de
escolhas, de prioridades erradas. Basta ver que, com dimensões continentais,
optou pelo modal rodoviário. Que com sol, vento e água em abundância,
compartilha com a África, a glória de não ter aproveitado todas as
oportunidades de seus recursos hídricos, bem como permanece num terrível atraso
em relação ao uso da energia solar e eólica. Mas, é, em especial, nas políticas
públicas que esta tendência se manifesta da forma mais negativa e cruel.
Escolhemos um governo que se arrasta já pelo quarto mandato que insiste em
tentar aumentar o controle do estado quando, é, mundialmente comprovado, que o
desenvolvimento se faz com um bom ambiente econômico, com um mercado de regras
claras e regulado e não por meio de intervenção estatal, mais burocracia e leis
que, claramente, só favorecem a corrupção.
Não é o governo que produz. Governo
toma dinheiro das pessoas que produzem e é mais nocivo, quanto mais, como
agora, além de tomar não devolve em infraestrutura, segurança e serviços o que
se espera dele. Quem produz são as empresas e as pessoas. Neste sentido quanto
mais elas tem uma carga tributária menor e mais condições de empreender, mais o
país tem condições de progredir. Neste sentido, é meritória a iniciativa do SEBRAE
para transformar o Dia da Micro e Pequena Empresa em uma data de mobilização da
sociedade para consumir produtos e serviços de pequenos negócios, com o Movimento
Compre do Pequeno Negócio. Mas, publicidade somente não basta. O governo que
louva o pequeno negócio em discursos e publicidade é o mesmo que acabou de
enterrar o Ministério da Micro e Pequena Empresa, mas, não apenas isto. Como se
não bastasse à carga tributária, a burocracia, o aumento da energia e dos
combustíveis, propõe, sem a menor vergonha, um imposto como a CPMF. Em suma,
faz o discurso de que todos temos talento para corredores em público, mas, nos
bastidores, prepara todo o arsenal para nos cortar as pernas. E ainda quer nos
convencer que o faz em nome de nosso bem estar e futuro. Até quando vamos
continuar estocando ventos e acreditando que as palavras podem mudar de
significado de acordo com o governante de plantão? Não sei, mas, o Brasil, se
não mudar, e rápido, caminha, celeremente, para o atraso.
*Silvio Rodrigues Persivo Cunha é
doutor em desenvolvimento sustentável pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos -
NAEA da Universidade Federal do Pará e professor de Economia Internacional da
UNIR - Fundação Universidade Federal de Rondônia.
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