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10 de janeiro de 2013

Médicos e o juramento em falso

Nada é permanente neste mundo cruel,
nem mesmo os nossos problemas.
Charles Chaplin


O Juramento de Hipócrates para os formandos em medicina foi atualizado em 1948 pela Declaração de Genebra, a qual vem sendo utilizada em vários países por se mostrar social e cientificamente mais próxima da atual realidade. Uma versão mais atualizada é atualmente utilizada no Brasil, sendo a mais difundida:

Prometo que, ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência. Penetrando no interior dos lares, meus olhos serão cegos, minha língua calará os segredos que me forem revelados, o que terei como preceito de honra. Nunca me servirei da minha profissão para corromper os costumes ou favorecer o crime. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, goze eu para sempre a minha vida e a minha arte com boa reputação entre os homens; se o infringir ou dele afastar-me, suceda-me o contrário.

Na atualidade a sociedade brasileira está vivendo um momento onde questionamos o poder público por não ter capacidade de administrar as necessidades básicas de saúde do cidadão. Formam-se milhares de médicos sem que seja realizado um planejamento que indique onde e quais as especialidades devem ser alocadas.

Além disso, nossos governantes permitiram a expansão das faculdades de medicina como se fossem mercearias por algumas regiões do país. Quantidade que não reflete em qualidade de ensino, qualidade dos cursos e principalmente dos profissionais da medicina que saem com diploma ao final de seis anos.

Esta falta de qualidade aliada à ganância do ser humano permite que tenhamos no Brasil de alguns anos para cá, uma casta de médicos primatas, arrogantes, covardes, perniciosos e sem humanidade alguma em seus corações empedernidos pela ausência de educação e civilidade.

Na semana que passou no RJ uma menina morreu vitima de uma bala perdida, entretanto, o que a levou a óbito e chocou a sociedade foi à ausência injustificável de um médico neurocirurgião no plantão do hospital.

A direção do Hospital municipal Salgado Filho, no Méier, subúrbio do Rio, informou à Secretaria de Saúde que o neurocirurgião escalado para o plantão noturno do dia 24 de dezembro faltou ao trabalho. A falta de um neurocirurgião na unidade nesse horário fez com que uma menina de 10 anos, baleada na cabeça na noite de segunda (24), ficasse oito horas esperando para ser operada, até a manhã desta terça (25).

Claro que o monstro, digo, médico não é o único culpado na história, o Hospital Municipal Salgado Filho e o Secretario de Saúde além do Prefeito Olímpico Eduardo Paes deveriam saber que um médico apenas é muito pouco para atender dezenas de casos durante um plantão na violenta cidade do Rio de Janeiro. Como seria se fosse à violenta cidade de SP.

Atrasos nas consultas, não atendimento de convênios em detrimento de particulares, faltas injustificadas, marcação irregular de ponto em Hospitais Estaduais, falta de diagnósticos corretos, são alguns dos muitos problemas que a sociedade enfrenta no dia a dia em relação aos novos médicos recém-formados no Brasil.

Muitos destes médicos são oriundos das classes mais abastadas, onde os pobres estão distantes e quando muito são seus empregados. Ao se verem diante de postos de saúde e hospitais abarrotados de gente humilde e sem recursos estes jovens médicos os tratam com desdém, falta de profissionalismo e até de senso humanitário.

Aos futuros estudantes de medicina, bem como aos recém-formados seria necessário rever suas convicções e sua forma de tratar seus pacientes seja qual for às condições sociais deles, enxergando em cada atendimento um Ser Humano que necessita de ajuda e conta com seus conhecimentos adquiridos ao longo de sua formação universitária, muitas vezes bancadas por recursos de impostos pagos por aqueles mesmos cidadãos em seu consultório, hospital ou pronto socorro.

Paciente não é cliente e sim um Ser Humano a ser tratado independente de sua condição social. A ganância e o egoísmo se apoderaram dos jovens médicos, obstruindo a visão humanitária da profissão que resolveram abraçar.  Não precisamos de médicos que pensem apenas em cifras, ao contrário, o Brasil precisa de profissionais de saúde que se entreguem ao sacerdócio da profissão antiga e digna chamada medicina.

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