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11 de agosto de 2009

Diálogo entre Senadores

O Senado Federal chegou ao fundo de um poço enorme, uma cratera de lama, esgoto e muita corrupção. Os atos ilícitos ou imorais envolvem desde funcionários até o alto clero da casa.
São dezenas de denúncias gravíssimas que até o momento não foram apuradas, não foram sequer levadas a sério pelos seus membros. Viagens com dinheiro público, nomeações irregulares, contratações em desacordo com a Constituição do nosso país e muitos outros crimes contra o decoro e as finanças do Senado brasileiro.
Percebendo que nada iria mesmo acontecer, como provavelmente não vá mesmo ocorrer, alguns senadores começaram a guerrear nas tribunas, trocas de acusações que mais se parecem com um imenso ventilador de cem metros de altura espalhando coliformes fecais por toda casa.
Imaginei então o que seria um diálogo surrealista numa dessas noites quentes no Senado, onde a verborragia felina de alguns tomasse de assalto a mais distante e perdida condição moral de seus interlocutores. Um diálogo fictício entre um senador da situação contra o seu opositor.
_ O nobre Senador do Ceará não tem moral para me agredir, visto que usou dinheiro público para pagar suas viagens em jatos executivos.
_ Usei e paguei com meu dinheiro, pois sou rico, estou na vida pública há muitos anos e acumulei riquezas às minhas custas e dos eleitores é claro.
_ Vossa Excelência é um parlamentar honesto.
_ Modere seu linguajar Senador, pois senão irei recomendar sua inclusão na Comissão de Ética como quebra do decoro parlamentar.
_ Pois Senador, eu não retiro uma vírgula de minhas palavras, o senhor é honesto desde criança.
_ Vossa Excelência está ultrajando meu passado ilibado nesta casa, eu exijo que Vossa Excelência retire essas acusações levianas.
_ Pois apesar de Vossa Excelência ser um coronel bem sucedido em seu Estado, não me coloca medo e nem tão pouco irei me curvar diante de suas falácias.
_ Presidente, senhor Presidente, Senhor José Sarney, o senhor tem a obrigação, embora desconheça o que seja honestidade, visto que nunca precisou lançar mão dela para nada em seus cinqüenta e cinco anos de vida pública, de punir o nobre Senador Renildo, caso contrário meu partido irá continuar com essa guerrilha contra vossa pessoa.
_ Senhores Senadores, eu José Sarney que nem meus netos conheço, por que motivo deveria conhecer esse tal de Senhor Honesto, do qual estão falando a meia hora?
Assim caminha nosso Congresso Nacional, praticamente falido, senão do ponto de vista institucional, mas do ponto de vista moral. Uma casa que não apresenta um único trabalho a favor do povo há muitos anos, nenhuma votação, nenhuma discussão que envolva assuntos de relevância ao conjunto de nossa sociedade. A troca de poder de oito em oito anos, possibilitou que se formassem dois blocos distintos – A maioria de fanfarrões aproveitadores e uma minoria sem voz para mudar alguma coisa.

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