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12 de outubro de 2015

Será que vamos continuar estocando vento?

O Brasil é um país de técnicos. De botequim, sem nenhuma formação, naturalmente. Aqui, talvez, seja muito simbólica a história das instruções que, contam, Vicente Feola, técnico do Brasil na Copa de 58, na Suécia, teria dado para Garrincha. Segundo o folclore ele teria dito que ganhar o jogo era fácil. Bastava passar a bola para Garrincha que driblaria dois zagueiros russos e passaria a bola para alguém fazer o gol. E Garrincha, a quem cabia às dificuldades da tarefa, perguntou, com sua ingenuidade natural, se o técnico havia combinado com os russos...
No Brasil, infelizmente, a política (e o governo também) se comporta de forma similar. Querem passar a dificuldade para o outro. Driblar a realidade com o discurso. No país as decisões e as prioridades parecem sempre fugir do real, parecem sempre desejar driblar o possível, o desejável, a maneira simples e direta de tratar dos problemas. É um país onde, apesar de ter conhecimento em muitas áreas, ainda se faz política pública defendendo que é possível crescer, desenvolver sem educação e sem investimento, via crédito e aumento de consumo. Onde se está sempre a pregar uma fórmula mágica como a de que é possível incluir a população pobre, retirá-la da pobreza sem criar crescimento, sem aumentar a produção, sem gerar novos empregos, com bolsas que incentivam as pessoas a não trabalhar. É como acreditar que se pode erguer um prédio sem alicerces. E o incrível é que, mesmo com o prédio tendo caído, ainda aparece um documento de “intelectuais” dizendo que a culpa é do engenheiro que chegou para retirar o entulho e tentar reconstruir o que sobra...
É um país que tem um histórico de escolhas, de prioridades erradas. Basta ver que, com dimensões continentais, optou pelo modal rodoviário. Que com sol, vento e água em abundância, compartilha com a África, a glória de não ter aproveitado todas as oportunidades de seus recursos hídricos, bem como permanece num terrível atraso em relação ao uso da energia solar e eólica. Mas, é, em especial, nas políticas públicas que esta tendência se manifesta da forma mais negativa e cruel. Escolhemos um governo que se arrasta já pelo quarto mandato que insiste em tentar aumentar o controle do estado quando, é, mundialmente comprovado, que o desenvolvimento se faz com um bom ambiente econômico, com um mercado de regras claras e regulado e não por meio de intervenção estatal, mais burocracia e leis que, claramente, só favorecem a corrupção.
Não é o governo que produz. Governo toma dinheiro das pessoas que produzem e é mais nocivo, quanto mais, como agora, além de tomar não devolve em infraestrutura, segurança e serviços o que se espera dele. Quem produz são as empresas e as pessoas. Neste sentido quanto mais elas tem uma carga tributária menor e mais condições de empreender, mais o país tem condições de progredir. Neste sentido, é meritória a iniciativa do SEBRAE para transformar o Dia da Micro e Pequena Empresa em uma data de mobilização da sociedade para consumir produtos e serviços de pequenos negócios, com o Movimento Compre do Pequeno Negócio. Mas, publicidade somente não basta. O governo que louva o pequeno negócio em discursos e publicidade é o mesmo que acabou de enterrar o Ministério da Micro e Pequena Empresa, mas, não apenas isto. Como se não bastasse à carga tributária, a burocracia, o aumento da energia e dos combustíveis, propõe, sem a menor vergonha, um imposto como a CPMF. Em suma, faz o discurso de que todos temos talento para corredores em público, mas, nos bastidores, prepara todo o arsenal para nos cortar as pernas. E ainda quer nos convencer que o faz em nome de nosso bem estar e futuro. Até quando vamos continuar estocando ventos e acreditando que as palavras podem mudar de significado de acordo com o governante de plantão? Não sei, mas, o Brasil, se não mudar, e rápido, caminha, celeremente, para o atraso.

*Silvio Rodrigues Persivo Cunha é doutor em desenvolvimento sustentável pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos - NAEA da Universidade Federal do Pará e professor de Economia Internacional da UNIR - Fundação Universidade Federal de Rondônia.

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