O presidente Lula assinou ontem (12/Maio/10) em Brasília um projeto de Lei que concede auxílio a ex-jogadores de futebol que serviram a seleção brasileira nas copas do mundo de 1958, 1962 e 1970. Pelo projeto cada jogador receberá um prêmio de R$ 100.000,00 (cem mil reais) pagos de uma só vez e mais uma pensão que será calculada entre o que o jogador recebe do INSS até o teto de R$ 3.000,00 (três mil reais).
Ou seja, se o jogador estiver recebendo a miséria que todos os não jogadores recebem, ou seja, um salário mínimo ele terá mais R$ 2.440,00 (dois mil quatrocentos e quarenta reais) mensais. Os que jogaram a Copa de 1966 como não a venceram não terão direito a nada. “Isso se chama rigor na Lei”.
Não tenho nada contra os jogadores de futebol, admiro boa parte deles e o esforço que fazem durante suas carreiras profissionais. Entretanto acho essa uma das maiores imoralidades que o governo brasileiro já perpetuou contra a sociedade.
Um operário que trabalha durante trinta e cinco anos ou um professor, um policial, um comerciário, um bancário, um gari, enfim, um trabalhador qualquer é lesado descaradamente pelos cálculos absurdos do INSS. Passa a receber no máximo o teto estabelecido sob regras discutíveis e totalmente prejudiciais aos trabalhadores, a maioria não recebe mais do que um salário mínimo por mês e tem de arcar com alimentação, vestuário, aluguel, medicamentos e o governo não dá nada em troca.
Agora usar nosso dinheiro para fazer média com quem viajou para o exterior, jogou bola, arrumou filhos pelo mundo afora como Garrincha, por exemplo, bebeu, caiu na noite e ao final da vida recebe módicos cem mil reais para compensar sua boa vida de playboy.
Concordar com isso é assumir nossa poção maior de incredulidade, nossa fragilidade frente a governantes que não tem pudor, não tem a mínima preocupação com a classe mais desfavorecida. Um pobre coitado sofre para conseguir se aposentar e tem dificuldade em provar tempos em que não tinha carteira assinada e ainda é humilhado, tem sua pensão ou aposentadoria maculada enquanto os ex-jogadores podem fazer uma última grande jogada.
Quando os parlamentares concedem um índice miserável de aumento aos aposentados a imprensa repercute lembrando sempre do rombo que aquele percentual concedido vai causar aos cofres combalidos da previdência. Agora quando um presidente quer fazer média, quer aparecer usando os nossos recursos ninguém tem coragem de gritar e espernear contra a medida.
Na hora que o INSS recebe pedidos de aposentadorias de quem trabalha a vida inteira em regime especial (químicos, professores, etc.) o pedido é engavetado ou negado de imediato e o trabalhador tem de recorrer a nossa (in) justiça e aguardar dezenas de anos para poder ter seu pedido julgado. Já os jogadores da seleção vão receber cem mil reais na conta...
Repito que nada tenho contra alguns jogadores serem ajudados, mas não dessa forma e com nosso dinheiro. Se o Lula queria ajudar alguém que o fizesse com seu dinheiro ou usando a CBF, aquela entidade que recentemente comprou um avião no exterior e torrou mais de cinqüenta milhões de reais. A CBF sim teria a obrigação de ajudar alguém que no passado recente trouxe divisas e glórias para o esporte nacional.
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