“O erro
acontece de vários modos,
enquanto ser
correto é possível
Muitos dos parlamentares, sindicalistas
e representantes dos empresários apoiaram na década de ’90 a Lei da
Terceirização quando de sua implementação no país. E um dos pilares deste apoio
era justamente o fato de que a mesma só poderia acontecer nas áreas fins dos
segmentos a serem terceirizados. Preservando as áreas meios das empresas e
órgãos do Estado.
Hoje, passados vinte anos, estes
mesmos senhores defendem a abertura daquilo que foi justamente o grande mote da
disseminação da terceirização no Brasil. Por que mudaram de opinião? A quem esta
mudança favorece? Quem perderá com isso e quem levará imensa vantagem
financeira com a mudança?
São algumas perguntas não respondidas
por nenhum parlamentar, que via de regra mentem descaradamente quando estão em
defesa do projeto 4.303/2004 de lei da abertura da terceirização cujo relator é
o Deputado Federal Arthur Maia (SD-BA).
Assim como muitos blogueiros vou usar
um texto excelente de Piero Locatelli escrito a princípio para a Repórter
Brasil que ganhou espaço em dezenas de colunas. Vejam a seguir:
1) Salários e benefícios devem ser cortados
O
salário de trabalhadores terceirizados é 24% menor do que o dos empregados
formais, segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos). No setor bancário, a diferença é ainda maior: eles
ganham em média um terço do salário dos contratados. Segundo o Sindicato dos
Bancários de São Paulo, eles não têm participação nos lucros, auxílio-creche e
jornada de seis horas.
2) Número de empregos pode cair
terceirizados
trabalham, em média, três horas a mais por semana do que contratados
diretamente. Com mais gente fazendo jornadas maiores, deve cair o número de
vagas em todos os setores. Se o processo fosse inverso e os terceirizados
passassem a trabalhar o mesmo número de horas que os contratados, seriam
criadas 882.959 novas vagas, segundo o Dieese.
3) Risco de acidente vai aumentar
Os
terceirizados são os empregados que mais sofrem acidentes. Na Petrobras, mais
de 80% dos mortos em serviço entre 1995 e 2013 eram subcontratados. A segurança
é prejudicada porque companhias de menor porte não têm as mesmas condições
tecnológicas e econômicas. Além disso, elas recebem menos cobrança para manter
um padrão equivalente ao seu porte.
4) Preconceito no trabalho pode crescer
maior ocorrência de denúncias de discriminação
está em setores onde há mais terceirizado, como os de limpeza e vigilância,
segundo relatório da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Com refeitórios,
vestiários e uniformes que os diferenciam, incentiva-se a percepção
discriminatória de que são trabalhadores de “segunda classe”.
5) Negociação com patrão ficará mais difícil
Terceirizados
que trabalham em um mesmo local têm patrões diferentes e são representados por
sindicatos de setores distintos. Essa divisão afeta a capacidade deles
pressionarem por benefícios. Isolados, terão mais dificuldades de negociar de
forma conjunta ou de fazer ações como greves.
6) Casos de trabalho escravo podem se multiplicar
O
uso de empresas terceirizadas é um artifício para tentar fugir das
responsabilidades trabalhistas. Entre 2010 e 2014, cerca de 90% dos
trabalhadores resgatados nos dez maiores flagrantes de trabalho escravo
contemporâneo eram terceirizados, conforme dados do Ministério do Trabalho e
Emprego. Casos como esses já acontecem em setores como mineração, confecções e
manutenção elétrica.
7) Maus empregadores sairão impunes
Com
a nova lei, ficará mais difícil responsabilizar empregadores que desrespeitam
os direitos trabalhistas porque a relação entre a empresa principal e o
funcionário terceirizado fica mais distante e difícil de ser comprovada. Em
dezembro do último ano, o Tribunal Superior do Trabalho tinha 15.082 processos
sobre terceirização na fila para serem julgados e a perspectiva dos juízes é
que esse número aumente. Isso porque é mais difícil provar a responsabilidade
dos empregadores sobre lesões a terceirizados.
8) Haverá mais facilidades para a corrupção
Casos
de corrupção como o do bicheiro Carlos Cachoeira e do ex-governador do Distrito
Federal José Roberto Arruda envolviam a terceirização de serviços públicos. Em
diversos casos menores, contratos fraudulentos de terceirização também foram
usados para desviar dinheiro do Estado. Para o procurador do trabalho Rafael
Gomes, a nova lei libera a corrupção nas terceirizações do setor público. A
saúde e a educação pública perdem dinheiro com isso.
9) Estado terá menos arrecadação e mais gasto
Empresas
menores pagam menos impostos. Como o trabalho terceirizado transfere
funcionários para empresas menores, isso diminuiria a arrecadação do Estado. Ao
mesmo tempo, a ampliação da terceirização deve provocar uma sobrecarga
adicional ao SUS (Sistema Único de Saúde) e ao INSS. Segundo ministros do
TST, isso acontece porque os trabalhadores terceirizados são vítimas de acidentes
de trabalho e doenças ocupacionais com maior frequência, o que gera gastos ao
setor público.
Fontes: Relatórios e pareceres da Procuradoria
Geral da República (PGR), da Central Única dos Trabalhadores (CUT), do
Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e
de juízes do Tribunal Superior do Trabalho (TST). Entrevistas com o
auditor-fiscal Renato Bignami e o procurador do trabalho Rafael Gomes.
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