Não há nada como regressar a um
lugar que está igual para descobrir o
quanto a gente mudou. Nelson Mandela
Meu pai ainda estava conosco (1932-1972) e por trabalhar nos períodos da noite e madrugada na Folha de SP, dormia durante a manhã e parte do começo da tarde. Viviamos em plena década de sessenta, que foi um turbilhão de criatividade, intensidade, alterações na vida política, enfim, o mundo respirava um novo ar e não sabia ainda o que era aquilo.
O Brasil estava mergulhado num golpe político e vivia em plena ditadura militar. Na França, Paris ardia com os movimentos estudantis e o mundo vivia intensamente Beatles, Rolling Stones, a guerra do Vietnã e tantas outras coisas ao mesmo tempo.
Eu ficava sentado após as aulas matinais e o almoço, no carro de meu pai, um Fusca/66 que era fruto de um esforço muito grande para o padrão da época em que viviamos no Brasil. Poucos tinham carros, andar de transporte coletivo era a saída para a população.
Dentro daquele carro me interessava em particular seu rádio, que tinha a vida passando nas suas ondas. Os radialistas falavam menos, usavam o tempo para informar e principalmente mostrar aos ouvintes o que rolava ao redor do mundo em termos de música.
Eu ouvia muito um radialista de voz grave e que tinha um jeito especial de fazer seu programa após o almoço. Chamava-se Hélio Ribeiro e era conhecido como A voz do rádio brasileiro. Ele falava como ouvinte, interpretava canções e não raras vezes vertia canções famosas para a nossa lingua. O programa chamava-se O poder da mensagem.
John Lenon, Beatles, Elvis Presley, Bee Gees, e tantos outros talentos passavam pelo som daquele rádio e me levavam a uma viagem indescritível num tempo sem tecnologia, sem celulares, sem Blue Rays, sem televisão colorida e computadores de última geração como temos hoje em dia.
Lá fora os dias eram sombrios enquanto o mundo vivia um período de transição em sua vida política. A economia estava em frangalhos, não tinhamos nem sonhavámos com nada do que hoje podemos encontrar até em bancas de camelôs.
A música, o teatro, o cinema, as artes em geral jamais terão uma produção tão rica e criativa como naquele período entre 1960 e 1980. A literatura registra hoje muito do que aconteceu naquele período fantástico.
Eu mudei, o mundo mudou, outros sons, novas tendencias, mapa mundis completamente diferente, novas influências, a internet começando a dominar o cenário antes exclusivo da televisão. Tudo tem sua hora, sua explicação, mas nada me faz esquecer aquele rádio, aqueles momentos em completa solidão acompanhado de tantas canções, sonhos e reminiscências que irão me acompanhar até o fim desta viagem.
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