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9 de maio de 2018

Deus e eu a sós no espaço!


Percebemos o ambiente por meio de estímulos encaminhados aos nossos olhos e a miríade de terminações nervosas ligadas ao tato, paladar e olfato. Essas sensações são subjetivas por natureza, pois, o mesmo estímulo pode produzir sensações diferentes em cérebros diferentes. Portanto, à incompletude de nossos sentidos devemos adicionar a subjetividade de nossos pensamentos.

Podemos dizer que a realidade permanece velada; ninguém a conhece e tudo é interpretação. Estamos “cegos” para o mundo; não estamos olhando para fora, mas sim para dentro de nossa própria cabeça. Estamos lendo o cérebro e assistindo ao filme que ele quer que vejamos. Somos prisioneiros de um mundo interior, de uma máquina que produz uma realidade virtual. O fato é que nós percebemos somente uma porção ínfima do oceano de vibrações em que estamos imersos.

Imagine aumentar o mundo um milhão de vezes, com as bactérias medindo mais de um metro e um fio de cabelo medindo cem metros de diâmetro. Mesmo com esse aumento, não seriamos capazes de ver um átomo de hidrogênio. Se tudo fosse aumentado ainda mais, o suficiente para deixar uma bola de tênis do tamanho da Terra, o mundo seria cem milhões de vezes maior. Nesse ponto o átomo seria visível. Se então aumentássemos o átomo até que o próton se tornasse visível, seu elétron – que ainda não seria visível – estaria orbitando a uma distância de cem metros. O átomo é um abismo preenchido com elétrons e as partículas do núcleo. Quanto mais se vasculha o abismo, mais se dá conta de que a massa em si não existe. Qualquer objeto que supomos sólido é quase completamente vazio e o vazio é de fato a ausência de percepção.

O mundo sem vazio seria uma massa incompreensível de matéria densa. O vazio dá identidade e forma aos corpos; dentro da matéria ele cria intervalos e espaços que moldam átomos e moléculas. O vazio é o responsável por ampliar e separar a matéria.
As partículas, os átomos e as moléculas estão dançando. Uma pedra, um objeto, um prédio, parecem não se mover nem um pouco, mas, na verdade se movem. Nada está imóvel, a não ser no abismo do zero absoluto. Os elétrons viajam a centenas de quilômetros por segundo, os prótons alcançam velocidades de trinta mil bilhões de bilhões de vezes por segundo. Considerando que cargas elétricas em movimento geram campos magnéticos, tais campos constantemente permeiam tudo.

A Mecânica Quântica demonstrou que ondas e partículas são aspectos diferentes da mesma coisa: massa e energia são intercambiáveis. Numa velocidade muito alta, a massa converte-se em energia e a energia também pode se tornar massa, porque na realidade, massa não é massa, mas energia distorcida pelos nossos sentidos, pela nossa percepção.
Estamos lidando com um mundo de representações sugeridas pelos sentidos e imaginações. Nada é uma certeza. A realidade objetiva é inatingível.
Um poeta sufi escreveu sobre a ideia de se encontrar frente a frente com Deus:
Deus e eu a sós no espaço... ninguém mais a vista...“E onde estão todas as pessoas meu Senhor?”, perguntei, “por que não sinto medo encontrando-O aqui neste momento?”. “Será este o dia do julgamento? ”
Ao que Deus respondeu: “Tudo era apenas um sonho, sonho que não existe mais. Não existe. Você... nunca houve Você no passado. Nada existe, senão Eu”.

Paulo Cesar Razuk
Professor Titular aposentado do Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Engenharia da Unesp – Campus de Bauru

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