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30 de maio de 2018

Dez anos do Blog Falando Um Monte!

A utopia está lá no horizonte. Aproximo-me dois passos,
ela se afasta dois passos. Caminho dez passos,
ela se afasta dez passos. Por mais que eu caminhe
jamais a alcançarei. A Utopia serve para que jamais
deixe de caminhas em sua direção.
Eduardo Galeano
Em junho deste ano de 2018, o meu blog vai completar dez anos de existência, motivo de alegria e muito orgulho, que agora divido com todos os leitores e amigos que acessam seus textos, compartilham com seus seguidores nas redes sociais e deixam seus comentários tão importantes.
Neste período foram 555.000 mil acessos de várias partes do mundo, em especial do Brasil, EUA, República Tcheca e Canadá. Através de diversos navegadores como o Google Chrome, Firefox, Safári e Internet Explorer.
Foram aproximadamente 55.500 mil acessos por ano, com uma média atual de 22.200 acessos mensais e 800 ao dia. Até o momento foram postados 826 artigos e textos de minha autoria e de diversos autores, jornalistas, professores, amigos e até desconhecidos.
A ideia do Blog e o seu nome devo ao meu filho mais velho Rodrigo Moia, que me incentivou há dez anos para que eu pudesse ter um espaço na internet para abrigar meus artigos. Tenho até esta data 1.180 artigos publicados em jornais, revistas e blogs diversos.
Se a ideia do Blog partiu de meu filho, a correção ortográfica e a discussão de alguns assuntos devo a minha esposa Célia, que me ajuda muito com seu carinho e conhecimento da língua portuguesa, afinal tem duas formações em Letras – Português e Espanhol. Amo você!
Impossível agradecer a todos que acessam diariamente o Blog, lendo, concordando ou não com os assuntos postados, mas sempre com muito respeito e carinho. Vocês fazem com que me esforce cada vez mais para melhorar a grade de artigos e textos postados. Obrigado amigos.
Autor: Rafael Moia Filho - Escritor, Blogger e Gestor Público.

O mistério do desaparecimento do avião da Malaysia Airlines!


A irracionalidade de uma coisa
não é argumento contra a sua existência,
mas sim uma condição para ela. 
Nietzche.

Após quatro anos o governo da Malásia encerrou as buscas pela aeronave Boeing 777 da Malaysia Airlines que fazia a rota do voo MH370 entre Kuala Lumpur na Malásia e Pequim na China, quando misteriosamente desapareceu com 239 pessoas a bordo, sem deixar vestígios na noite de oito de março de 2014.
O governo daquele país contratou a empresa americana Ocean Infinity para procurar algum indício que levasse a solucionar o mistério do desaparecimento da aeronave. As buscas foram feitas pela empresa por 90 dias, prorrogadas por duas ocasiões, sem que houvesse algum avanço ou informação substancial para o governo e as famílias dos tripulantes e passageiros do voo MH 370.
Antes da contratação da empresa americana, equipes da Malásia, Austrália e da China fizeram uma verdadeira varredura por 120 mil quilômetros quadrados no Oceano Indico em busca de quaisquer evidências sem, no entanto, lograr êxito.
Varias teses foram criadas, uma delas, talvez a mais aceita de que o desaparecimento fora provocado por um dos pilotos que teria deliberadamente despressurizado o avião para que seus ocupantes ficassem inconscientes. Em seguida, teria alterado a rota rumo ao sul, voando até acabar o combustível da aeronave.
Alguns destroços foram encontrados por acaso na Ilha francesa de La Réunion, em Moçambique e em Madagascar, no Oceano Indico, mas a aeronave jamais foi localizada.
A verdade é que fica difícil acreditar nesta tese quando percebemos que três países ficaram três anos averiguando todas as possibilidades e alocando recursos humanos e tecnológicos avançados na busca por uma explicação que levasse aos destroços da aeronave.
A queda e o desparecimento remontam a tese do livro O Triângulo das Bermudas publicado em 1974 de autoria de Charles Berlitz, que popularizou a crença no Triângulo das Bermudas como uma área do Oceano Atlântico propensa ao desaparecimento misterioso de navios e aviões. O livro tornou-se um bestseller e vendeu quase 20 milhões de cópias, sendo publicado em 30 idiomas.
No livro, o autor elabora várias teorias para explicar os desaparecimentos, contudo ele preferiu optar por dar credibilidade para aquelas que têm uma causa natural. Uma dessas teorias afirma que o Triângulo das Bermudas é na verdade um subproduto da destruição de Atlântida, a lendária ilha descrita por Platão.
Seja lá como for, é muito estranho que em pleno século XXI, com toda tecnologia disponível, um imenso avião desaparece nas profundezas do mar, sem deixar nenhum vestígio que pudesse apontar sua correta localização e facilitar o esclarecimento dos motivos de sua queda.
https://todosabordo.blogosfera.uol.com.br/2019/01/30/desaparecimento-boeing-707-da-varig/

Autor: Rafael Moia Filho - Escritor, Blogger e Gestor Público.

29 de maio de 2018

Difícil de explicar!

A utopia está lá no horizonte. Aproximo-me dois passos,
ela se afasta dois passos. Caminho dez passos,
ela se afasta dez passos. Por mais que eu caminhe
jamais a alcançarei. A Utopia serve para que jamais
deixe de caminhas em sua direção.
Eduardo Galeano

Os governantes brasileiros optaram claramente pelo transporte rodoviário em detrimento das demais opções de logística existentes. O transporte aéreo é restrito as empresas nacionais, prejudicando a concorrência que deveria existir caso fosse aberta a participação de empresas aéreas estrangeiras em voos regionais. O sistema hidroviário não passa de uma promessa que não deslancha por falta de interesse e investimentos sérios.
Pior ainda, o sistema ferroviário foi sucateado e destruído pela ignorância de governantes obtusos e por força da indústria automobilística que venceu a queda de braço e se impôs no país desde a década de ’60. Com isso, quase toda carga nacional é transportada por caminhões em rodovias.
Assim o país tem uma logística manca, onde depende exclusivamente de caminhões que percorrem milhares de quilômetros de estradas esburacadas, de terra e muitas vezes intransitáveis na época das chuvas.
Um país continental que abriu mão de ter um sistema ferroviário a baixo custo podendo auxiliar diretamente o escoamento da safra e das cargas, não pode ter sucesso na sua logística interna de distribuição de alimentos e cargas diversas.
A título de comparação, os americanos possuem um imenso território, porém, se utilizam de rodovias pavimentadas onde transitam seus caminhões. Porém, seus governantes jamais abriram mão do sistema ferroviário moderno e de longo alcance. Seu sistema de aviação possui inúmeras aeronaves que cortam os céus em voos regionais diários, transportando carga e milhares de passageiros por dia. Ainda possuem sistema hidroviário que ajuda na logística do transporte de cargas e passageiros do país.
Então qual seria a diferença além das estratégias adotadas em países desiguais economicamente e estruturalmente como Brasil e EUA? Simples, a diferença brutal está na qualidade moral e intelectual entre os políticos que habitam o “Tio Sam” e os que aqui chafurdam na lama e no esgoto da política nacional, destruindo sonhos, vidas e o futuro da nação brasileira. 
Autor: Rafael Moia Filho - Escritor, Blogger e Gestor Público.

Leis existem, o que falta?


Quando as bandeiras dos partidos substituem
os valores de nossa consciência,
a vida e a inteligência naufragam.
Rute de Aquino

O Brasil tem milhares de leis nas três esferas do poder executivo. São tantas leis que a maioria da sociedade com toda certeza desconhece noventa por cento. Leis importantes, leis fúteis, algumas inócuas, até inconstitucionais em alguns municípios.
A tarefa de legislar cabe aos parlamentares que em sua maioria não possuem capacidade e discernimento para tarefa tão simples, quanto importante.
Agora, se o país tem tantas leis, o que falta para que tenhamos uma vida tranquila, regrada e com justiça? Talvez falte o seguinte:
   a)   A sociedade adquirir o hábito de conhecer e respeitar as leis existentes;
   b)  A mesma sociedade começar a cumpri-las rigorosamente;
   c)   As penas para quem infringe as leis deveriam ser compatíveis com os crimes cometidos;
   d)  Haver a independência do Poder Judiciário em relação aos demais poderes; 
   e)   E por fim, a atualização e modernização do código penal brasileiro.
Antes de pensar em tantas leis, nossos políticos deveriam investir maciçamente em Educação de qualidade para todos os cantos do nosso imenso país. Não apenas com distribuição de verbas amparadas por “leis”, mas sim, com um trabalho árduo de reconhecimento e valorização do ensino em todas as suas matizes.
Apostar na Educação seria a única saída para o país e nosso povo na tentativa de recuperarmos tantos anos perdidos com política baixa, corrupção e mentiras em forma de programas eleitoreiros e sem fundamento técnico e científico.
O processo de recuperação e valorização da educação tem de começar pelo ensino infantil, berço do ensino e primeiro passo para realizar as modificações necessárias para que o aluno possa ter sucesso no Fundamental, Médio e Superior.
É recuperando o senso de cidadania, o valor da ética e da honestidade como princípios básicos e imutáveis que começaremos a mudança verdadeira em nosso sofrido país.
Nunca precisamos nem precisaremos de intervenção militar, mas sim, de uma guerra contra a corrupção, o desperdício e o jeitinho brasileiro. Precisamos de uma Intervenção Educacional para poder salvar o futuro da nossa gente.
Autor: Rafael Moia Filho - Escritor, Blogger e Graduado em Gestão Pública.

A perigosa miragem de uma solução militar para a crise do Brasil!


Com todas as suas limitações, a democracia ainda é a única possibilidade para que um povo possa conviver com o melhor de seus valores!

Embora não exista o perigo de querer solucionar a crise política e social do Brasil com a intervenção militar, negada pelo exército, é verdade que essa tentação começa a aparecer em alguns círculos como uma perigosa miragem capaz de condicionar as próximas eleições presidenciais. Acabamos de ver isso no momento mais agudo da greve dos caminhoneiros, na qual se ouviram vivas ao ditador chileno Pinochet e apelos por um governo militar.
Minha amiga Telma, que trabalha com cultura, me conta consternada: “Juan, estão gritando que eu vá embora para Cuba, que sou comunista por defender que a greve dos caminhoneiros pode favorecer o ultradireitista Bolsonaro.” Outro amigo meu, Antonio, aposentado da Petrobras que sabe que sofri a longa ditadura militar franquista na Espanha, confidencia: “Juan, não se iluda, só os militares podem salvar o Brasil, fechando esse Congresso corrupto e assumindo o comando do país.”
Qualquer brasileiro medianamente informado sobre a história deveria, no entanto, saber que, com todos os seus defeitos, ninguém ainda encontrou uma fórmula melhor do que a democracia para que uma sociedade viva em harmonia no tocante a suas liberdades e direitos. Custa-me, por isso, imaginar que um intelectual ou artista, qualquer que seja sua tendência política, possa apostar nos militares para tirar o país da crise, porque se sabe que nenhuma solução autoritária produz bem-estar, convivência e respeito às diferenças. E, no entanto, essas mesmas pessoas que consideramos iluminadas e formadoras de opinião parecem cair na armadilha de apoiar ou alimentar movimentos populares de protesto que, ainda que possam parecer uma forma legítima de pressionar o poder e defender os direitos dos trabalhadores, podem se transformar em um bumerangue em momentos históricos de confusão ideológica como o que o Brasil está vivendo.
A história ensina que, em muitas experiências de cunho fascista, não poucos intelectuais e artistas acabaram colaborando explícita ou implicitamente sob pretexto de defender os oprimidos. A miragem das soluções totalitárias contra as arbitrariedades dos governantes das democracias acabou apoiando totalitarismos e regimes militares que chegaram ao poder não com o voto, mas pela imposição das armas. Já tivemos isso na Alemanha de Hitler, na Itália de Mussolini e na Espanha de Franco, para falar apenas da Europa.
No momento em que escrevo esta coluna ainda não é possível fazer um balanço do que representou, politicamente, a greve dos caminhoneiros no Brasil, à qual parece querer seguir a dos petroleiros e, quem sabe, também a de outras categorias que poderiam sair às ruas “contra tudo e contra todos”, que é a fórmula mais perigosa para impedir uma solução dialogada que faça justiça aos abusos que podem ter sido o estopim das manifestações.
Quem viveu e sofreu por muitos anos um regime totalitário sabe que, com todas as suas limitações, a democracia ainda é a única possibilidade para que um povo possa conviver com o melhor de seus valores. Quem, por exemplo, hoje pode gritar nas estradas contra o governo para defender o que considera seus direitos, ignora que não poderia fazê-lo sob nenhum regime totalitário sem pôr em perigo sua própria vida.
Na política, na família ou em qualquer relacionamento humano, nada é capaz de substituir o diálogo se não se quiser viver no inferno da incomunicabilidade. Nunca a força imposta pelas armas fez a Humanidade crescer no melhor que possui, como sua possibilidade de viver em liberdade sem a tirania dos muros, nem os de Berlim nem os do México, emblema, ambos, dos crimes contra a liberdade e a convivência democrática.

Autor: Juan Arias – Coluna Opinião – El País

25 de maio de 2018

A Caixa dos Trovões!


Não são os palestinos que representam o maior perigo para o futuro de Israel, e sim Netanyahu e seus capangas e o sangue que derramam

Enquanto Ivanka Trump, envolta em um vaporoso vestido que dava o que falar entre os presentes, descerrava a placa inaugurando a chamativa embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém, o Exército israelense matava a bala 60 palestinos e feria 1.700 que, lançando pedras, tentavam se aproximar das cercas que separam Gaza do território de Israel. Os dois acontecimentos não coincidiram por acaso, o segundo foi consequência do primeiro.
A decisão do presidente Trump de reconhecer Jerusalém como a capital de Israel, anunciada em sua campanha eleitoral, rompe setenta anos de neutralidade dos Estados Unidos. Estes, assim como seus aliados no Ocidente, sustentavam até agora que o status de Jerusalém, reivindicada como capital tanto por palestinos como por israelenses, deveria ser decidido em um acordo entre as duas partes que definisse a criação de dois Estados coexistentes na região. Embora a teoria dos dois Estados ainda apareça às vezes na boca de dirigentes das duas nações, ninguém acredita mais que essa fórmula ainda seja factível, dada a política expansionista de Israel, cujos assentamentos na Cisjordânia continuam devorando territórios e isolando cada dia mais os povoados e cidades que conformariam o Estado palestino. Se existisse, este seria atualmente pouco menos que uma caricatura dos bantustões da África do Sul nos tempos do apartheid.
O presidente Trump afirmou que sua decisão de reconhecer Jerusalém como capital de Israel é “realista” e que, em vez de dificultar um acordo, vai facilitá-lo. É possível que não só tenha dito, como também que, em sua formidável ignorância dos assuntos internacionais sobre os quais opina diariamente de maneira tão pouco responsável, acredite nisso. Mas duvido que acreditem muitos mais além dele e do punhado de fanáticos que aplaudiram entusiasmados quando Ivanka descerrou aquela placa e Bibi Netanyahu, com lágrimas nos olhos, exclamou: “Que dia glorioso!”. Na verdade, Trump abriu a caixa de Pandora com essa medida e, além da confusão e do desconcerto em que mergulhou seus aliados, provocou em grande parte a cruel e estúpida matança que veio se somar ao suplício que é, há muito tempo, a vida para os desventurados habitantes de Gaza.
A criação de dois Estados que convivessem em paz era a fórmula mais sensata para pôr fim a esse conflito que existe há setenta anos no Oriente Médio, e nisso acreditaram muitos israelenses durante muito tempo. Infelizmente, na época de Arafat, os palestinos rejeitaram um plano de paz no qual Israel fazia concessões notáveis, como devolver boa parte dos territórios ocupados e aceitar que Jerusalém fosse compartilhada como capital de Israel e da Palestina.
Desde então, aquele enorme movimento de opinião pública israelense que queria a paz foi encolhendo, enquanto cresceu o número de quem, como Sharon, considerava que a negociação era impossível e a única solução viria apenas de Israel, imposta pela força aos palestinos. E há muita gente no mundo, como Trump, que pensa assim e está disposta a apoiar essa política insensata que nunca resolverá o problema e continuará enchendo de tensão, sangue e cadáveres o Oriente Médio.
Esse processo é que tornou possível um Governo como o de Netanyahu, o mais reacionário e prepotente que Israel já teve, e certamente o menos democrático, pois, convencido de sua superioridade militar absoluta em toda a região, persegue sem trégua seus adversários, rouba-lhes cada dia um pouco mais de territórios e, acusando-os de serem terroristas e de pôr em perigo a existência do pequeno Israel, abre fogo e os fere e assassina à vontade sob o menor pretexto.
Queria citar aqui um artigo de Michelle Goldberg que apareceu no The New York Times de 15 de maio sobre o que ocorreu no Oriente Médio, intitulado Um grotesco espetáculo em Jerusalém. Descreve com detalhes a extraordinária concentração de extremistas israelenses e fanáticos evangélicos norte-americanos que festejaram a abertura da nova embaixada, e a bofetada que foi para o povo palestino essa nova afronta infligida pela Casa Branca. A autora não esquece a intransigência do Hamas, nem o terrorismo palestino, mas também recorda a condição indescritível em que estão condenados a viver os habitantes de Gaza. Vi com meus próprios olhos e sei o grau de degradação em que sobrevive com muita dificuldade essa população sem trabalho, sem comida, sem remédios, com hospitais e escolas em ruínas, com edifícios desmoronados, sem água, sem esperança, submetida a bombardeios cegos cada vez que há um atentado.
Goldberg explica que o sionismo sofreu na opinião pública mundial com a direitização extrema dos Governos israelenses, e que uma parte significativa dos judeus dos Estados Unidos já não apoia a política atual de Netanyahu e os pequenos partidos religiosos que lhe dão maioria parlamentar. Acredito que isso valha também para o restante do mundo, para milhões de homens e mulheres que, como eu, sentiam-se identificados com um povo que tinha levantado cidades modernas e fazendas-modelo onde só havia desertos, criado uma sociedade democrática e livre, na qual um setor muito grande queria verdadeiramente a paz negociada com os palestinos. Esse Israel, infelizmente, já não existe mais. Agora é uma potência militar, sem dúvida, e de certa forma colonial, que só acredita na força, principalmente nestes dias, graças ao apoio do país mais poderoso do mundo, encarnado pelo presidente Trump.
Todo esse poder não adianta muito se uma sociedade vive esperando atacar ou ser atacada, armando-se cada dia mais porque sabe que é odiada por seus vizinhos e até por seus próprios cidadãos, exigindo que seus jovens passem três anos no Exército para assegurar a sobrevivência do país e continuar ganhando as guerras, e castigando com ferocidade e sem trégua, diante da menor agitação ou protesto, aqueles cuja única culpa é a de já estar ali havia séculos quando começaram a chegar os judeus expulsos da Europa depois das atrozes matanças perpetradas pelos nazistas. Essa não é uma vida civilizada nem desejável, viver entre guerras e matanças, por mais poderoso e forte que seja um Estado.
Os verdadeiros amigos de Israel não devem apoiar a política, em longo prazo suicida, de Netanyahu e companhia. É uma política que está fazendo desse país, que era amado e respeitado, um país cruel e impiedoso com um povo ao qual maltrata e subjuga enquanto, ao mesmo tempo, proclama-se uma vítima da incompreensão e do terror. Isso já não é verdade, se é que foi alguma vez.
Tenho muitos amigos em Israel, principalmente entre seus escritores, e defendi muitas vezes seu direito à existência, sob fronteiras seguras, e sobretudo que encontre uma maneira pacífica de coexistir com o povo palestino. Honra-me ter recebido o Prêmio Jerusalém e me alegra saber que nenhum de meus amigos israelenses participou desse “grotesco espetáculo” que protagonizou a estilizada Ivanka Trump descerrando aquela placa, e tenho certeza de que todos eles sentiram tanta tristeza e indignação quanto eu pela matança nas cercas de Gaza. Eles representam um Israel que parece desaparecido nos últimos dias. Mas esperemos que volte. Em nome deles e da justiça, é preciso proclamar a todos os ventos que não são os palestinos que representam o maior perigo para o futuro de Israel, e sim Netanyahu e seus capangas e o sangue que derramam.
Autor: Mario Vargas Llosa – El País

20 de maio de 2018

A Educação no país!

Levantamentos da FIESP e do IBGE dão a
medida das dificuldades que o País vem enfrentando
na formação de capital humano, condição indispensável
 para a passagem a níveis mais sofisticados de produção.

Na mesma semana em que a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) divulgou uma pesquisa sobre o conceito de Indústria 4.0 e os problemas que precisam ser enfrentados para sua adoção, dentre os quais a necessidade de mão de obra altamente qualificada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua de 2017 que mostram que o cenário da educação brasileira, apesar de alguns avanços pontuais, continua trágico.
Os dois levantamentos dão a medida das dificuldades que o País vem enfrentando na formação de capital humano, condição indispensável para a passagem a níveis mais sofisticados de produção. O conceito de Indústria 4.0 engloba as principais inovações tecnológicas dos campos de automação, controle e tecnologia da informação, aplicadas aos processos de manufatura. Os números da Pnad ajudam a compreender os problemas que as entidades empresariais têm pela frente. Além da falta de mão de obra qualificada para trabalhar com as novas tecnologias, pelo levantamento do IBGE o Brasil não teria nem mesmo mão de obra qualificável, ou seja, com um mínimo de instrução para poder ser treinada e qualificada.
Segundo a Pnad, a proporção de brasileiros com menos de um ano de estudo caiu de 7,8% para 7,2% da população com mais de 25 anos, entre 2016 e 2017. Mas, dos 48,5 milhões de pessoas que tinham entre 15 e 29 anos de idade em 2017, 11,2 milhões – o equivalente a 23% do total – não trabalhavam, não estudavam e não se qualificavam. Em 2016, o índice foi de 21,9%. Em números absolutos, o crescimento desse contingente foi de 619 mil pessoas.
Pela meta nove do Plano Nacional de Educação (PNE), que foi aprovado em 2014, o País deveria ter em 2015 até 6,5% da população com 15 anos ou mais sem saber ler ou escrever um bilhete simples. Os dados da Pnad mostraram que o índice foi de 7,7% naquele ano, tendo baixado para 7% em 2017, não atingindo, portanto, a meta. Em números absolutos, são 11,5 milhões de pessoas com mais de 15 anos que não sabem ler e escrever. A meta que previa que 85% dos estudantes do ensino médio estivessem na idade esperada nas três séries desse ciclo educacional também não foi atingida. Segundo o IBGE, em 2017 apenas 68% dos alunos desse ciclo de ensino estavam na etapa esperada.
Os dados da Pnad revelam ainda que o número de pessoas com mais de 15 anos matriculadas no sistema de Educação de Jovens e Adultos (EJA) cresceu 3,4% entre 2016 e 2017. Contudo, nos cursos de alfabetização voltados especificamente para adultos, o número de matrículas, que foi de 153 mil em 2016, caiu para 118 mil no ano passado. Em 2017, além disso, 7,2% da população com idade acima de 25 anos não tinha instrução e 33,8% tinham o ensino fundamental incompleto. Na prática, isso significa que 41% da população adulta é analfabeta funcional. São pessoas que sabem escrever o nome, mas não conseguem ler e compreender manuais de instrução para a operação de máquinas e equipamentos.
Os números da Pnad demonstram, mais uma vez, que a qualidade do sistema de ensino do País continua insatisfatória, a maior parte dos estudantes permanece defasada, o tempo médio de estudo é menor que nas economias com maior presença no comércio internacional e as taxas de evasão permanecem altas. Esse cenário sombrio decorre, basicamente, do modo inepto como o sistema educacional foi gerido pelos quatro governos petistas.
Em vez de concentrarem a atenção em objetivos básicos, como o ensino de Português, Matemática e Ciências, eles adotaram políticas marcadas por prioridades erradas e orientadas por modismos pedagógicos e pelo discurso da democratização do ensino, descuidando da formação básica das novas gerações e do fortalecimento do ensino médio, o que resultou nas dificuldades que o País enfrenta para adotar novas tecnologias e modernizar a economia.

Publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo.

16 de maio de 2018

Primeiro roubaram a luz, depois o túnel, agora o nosso futuro!

“Quem se senta no fundo de
um poço para contemplar o céu,
há de achá-lo pequeno"
Han Yu.

Nestes últimos trinta e poucos anos tivemos uma sequência de governantes que deveríamos apagar da nossa história enquanto Nação. Da vitória de Tancredo no colégio eleitoral aos dias atuais, o nosso país perdeu um tempo precioso que jamais será recuperado no sentido de ter se tornado uma potência mundial, ou na pior das hipóteses um dos países mais fortes entre os chamados em desenvolvimento.
Jogamos no lixo todas as possibilidades que tivemos ao não fiscalizarmos nem participarmos ativamente da vida política nacional, nos limitando a votar, cometendo um erro crasso que nos custa justamente o preço do atraso e do subdesenvolvimento em que estamos perante o mundo moderno.
Nossa indústria está atrasada e sucateada, sem condições de competir com os países da Europa, Ásia e América do Norte. Nossas riquezas saem para o exterior a preço de banana. Exportamos matéria prima e depois compramos a preço de diamantes os produtos finais produzidos pelos países ricos.
Não temos controle algum sobre nossas fronteiras em nosso vasto território continental. Nosso setor pesqueiro carece de investimentos e nem no turismo podemos nos orgulhar de algum avanço, mesmo sediando grandes eventos mundiais e tendo belezas naturais incomparáveis.
A violência que é fruto das péssimas gestões e do descaso para com a Educação e a saúde pública, hoje alcançou níveis insuportáveis em toda área urbana do país. Nossas leis são antigas, o código penal é retrógado e mantém penas brandas para crimes hediondos, além de benesses que incentivam a criminalidade em todos os cantos.
Nada que é feito dentro dos governos nas três instâncias do poder executivo (Municipal, Estadual ou Federal) leva em conta o bem estar da sociedade e o futuro da Nação. As privatizações ao invés de reduzirem a participação do Estado serviram apenas para engordar contas de políticos em paraísos fiscais e deixar empresários milionários com as aquisições de grandes empresas por preços subfaturados em editais manipulados e suspeitos.
Prova é que estamos vivendo um colapso no setor elétrico nacional, perdemos muitos recursos minerais e não investimos praticamente nada em Educação, Saúde, Saneamento Básico, Habitação e Segurança Pública com os recursos oriundos das vendas das estatais.
As nossas rodovias são do tempo do império, muitas ainda sem capa asfáltica e intransitáveis por onde passam boa parte do escoamento da nossa safra agrícola. Nossas hidrovias são parte de um projeto tímido, sem os devidos investimentos, talvez por conta da força do setor automobilístico que não quer perder o filão da venda de seus caminhões para as barcaças.
Ainda no setor logístico, vimos depois da posse de FHC em 1995, o completo sucateamento do setor ferroviário no país. Um dos meios mais seguros e econômicos para o transporte de cargas foi destruído pela infeliz estratégia do grão tucanato no período de 1995 – 2001.
Para piorar, nenhum outro país tem a classe política tão ruim, tão corrupta e incapaz como o Brasil. É certo que, nosso povo carente de educação e de informação, não leva a sério a democracia, pensa erroneamente que votar é o começo e o fim do processo. Não cobra, não fiscaliza e a tudo releva. Discute apenas os candidatos a presidência, quando deveria dar valor a todos os cargos eletivos que são colocados em votação.
A cada novo pleito, percebemos que nada muda, os nomes colocados a prova são fruto da maquiavélica máquina partidária engendrada por um grupo grande de interessados em manter as coisas no nível bem baixo e distante da luz e da justiça.

Autor: Rafael Moia Filho - Escritor, Blogger e Gestor Público.

O planeta não suporta mais o egoísmo e a ganância dos líderes mundiais!

Devemos promover a coragem onde há medo,
promover o acordo onde existe conflito,
e inspirar esperança onde há desespero.

Enquanto o tempo passa inexoravelmente assistimos os grandes líderes das maiores e mais ricas nações do planeta discutirem territórios a serem ocupados para conseguir mais petróleo, guerras e muitas outras coisas menores e sem sentido.
O líder americano discute a construção de um muro entre seu país e o México. Israel quer o fim das armas nucleares do Irã, porém, não quer discutir a manutenção de seu armamento bélico. A França e a Grã Bretanha discutem o terrorismo enquanto decidem bombardear a Síria por uma suposta ação que havia envolvido armas químicas, o que nunca foi comprovado.
Quando do ataque às torres gêmeas os EUA seguindo seu líder George Bush, resolver atacar o Iraque de Saddam Hussein, que nada tinha a ver com o ato terrorista de 11 de setembro. Ao invés de contra atacar a Al Qaeda no Afeganistão onde estava Bin Laden, eles preferiram tomar posse do Iraque e de seu valioso petróleo.
Hoje o Oriente Médio está em chamas, assim como a destruída Síria e tantos outros países em diferentes regiões. Enquanto isso, a poluição, a destruição de matas, florestas, fauna marinha e dos nossos rios acontecem sem que nenhum dos líderes mundiais faça algo para impedir. Ao contrário, rasgam acordos importantes para preservação do planeta.
Se os bilhões de recursos investidos em armas, projetos nababescos de viagens a Marte fossem destinados à cura de doenças e a preservação do planeta talvez pudéssemos acreditar no futuro das próximas gerações.
Os recursos minerais são finitos e é notório o esgotamento avançado do planeta. No Brasil o desmatamento não para, e já ameaça destruir a Floresta Amazônica para que latifundiários plantem pastos para seus rebanhos ou gananciosos destruam tudo na busca por ouro e outros minérios de forma irregular.
Os seres humanos desconhecem que não existe outra morada para os bilhões de seres vivos que aqui residem e dependem unicamente da Terra. Ninguém ergue a voz, ninguém luta contra os desmandos dos vilões que contam com a maioria dos governantes corruptos e despreocupados com nosso ecossistema.
É preciso que haja uma reação em todos os cantos do mundo. A humanidade precisa acordar antes que seja tarde demais para qualquer reação e o planeta agonize definitivamente.
Autor: Rafael Moia Filho - Escritor, Blogger e Gestor Público.

Petrobrás - Abaixo do Pré-Sal!

“Somos uma empresa, instituição de inteligência,
que em qualquer época com ou sem crise,
terá lugar assegurado. Os governos passam, nós ficamos”.
Júlio Bozano

Enquanto o país discutia a situação nebulosa em que se encontrava a Petrobrás, sugada pela força do furacão Corrupção o cidadão ao abastecer seu veículo pagava na bomba de combustíveis R$ 2,89 o litro da gasolina. Hoje, passados mais de dois anos, com a empresa voltando ao seu normal, estamos pagando mais de R$ 4,00 o litro da mesma gasolina.
É a lógica reversa da leitura da corrupção a favor da privatização, na prática da corrupção legalizada para pequenos grupos do poder estabelecido.
A existência dos focos de corrupção na empresa é antiga, variando a sua intensidade, talvez nunca como nos últimos anos, conforme apurada em delações dentro da Operação Lava Jato. Em 2002, final do governo FHC e começo da gestão Lula, a Petrobrás tinha um valor de mercado de US$ 15,5 bilhões, saltando para cerca de US$ 104,9 bilhões em 2014. Quando começou a exploração dos poços utilizando o modelo de partilha, o que era muito mais lucrativo para o Brasil, coadunado à lei que previa 75% dos royalties da extração do petróleo para a educação e 25% para o SUS. Sem levar em consideração os ativos da empresa, a descoberta do Pré-Sal, a detenção da tecnologia de perfuração em águas profundas etc., o que tornava o valor da empresa ainda maior. Neste momento a corrupção passou a ser um enorme problema.
Quando a corrupção rolava, mas o grosso do lucro ia para investidores, para a bolsa de valores e para irrigar campanhas do PSDB/PT e PMDB, ela não interessava. Quando a corrupção inverteu a lógica, apareceu a operação lava-jato.
E olha que no Brasil a disputa é até tranquila. Aqui o jogo pelo Petróleo está só criando milhões de desempregos, derrubando governos e prendendo líderes. 
No Oriente Médio ele está dizimando países e praticando genocídios. Ou vocês acreditam mesmo que a guerra na Síria, na Líbia, Iraque e a possível guerra entre Irã e Israel é religiosa?
A primeira coisa que fizeram quando apearam o PT do poder foi colocar na presidência da empresa um homem de mercado, um homem que tinha interesses financeiros pessoais na empresa, o Pedro Parente.
Depois de começarem a repetir em 2014 que a Petrobrás estava quebrada, mesmo sem estar, tendo em vista que seu valor de mercado era seis vezes maior que em 2002, e já tinha atingido um pico, anos antes, entre 2009 e 2012 de cerca de um trilhão de reais, chegando a ser a 10° maior empresa do mundo, as pessoas simplesmente acreditaram cegamente, e a privatização da Petrobrás passou a ser ponto pacífico.
Na década de 60, a Indonésia era um país recém-liberto do domínio holandês que despertava profundos interesses no Ocidente e Austrália pela sua abundância em Petróleo. O primeiro trabalho para a derrubada do governo que lá vigorava, foi à proliferação de escândalos, o segundo foi o investimento ocidental em grupos revoltosos (Síria?), e depois estes grupos foram financiados pelo Ocidente e Austrália e saíram armados, liderados pelo futuro ditador Suharto.
Depois que o Suharto tomou o poder, como primeira ação entregou todo o petróleo nas mãos de empresas destes mesmos países que financiaram seu golpe. Depois, praticou um genocídio que dizimou 500 mil pessoas. E quando menos se percebeu a Indonésia, que antes era uma das grandes exportadoras de petróleo e autossuficiente em energia, se viu obrigada a comprar o que ela mesma produzia pagando quatro dólares a mais por barril do que ganhava em royalties, multiplique quatro dólares por milhões ao dia.
Está aí a mágica das privatizações, o linchamento em cima da Petrobrás, a repetição de que ela opera no prejuízo e é um fardo pesado ao Estado que querem vender a vocês. Não se trata de defender o governo pois estes grupos que saem em defesa da Petrobrás defendiam também todas as indústrias estratégicas do País mesmo na época do regime militar.
Autor: Rafael Moia Filho: Escritor, Blogger, Graduado em Gestão Pública.

14 de maio de 2018

A arte da paciência!


Vivemos em um mundo frenético que 
exige resultados imediatos e ter tudo sob controle. 
Além de irreais, essas pretensões são danosas!


A palavra paciência deriva do latim patiens, ou seja: o que padece. Implica sofrimento: o da espera e o da esperança... ou do desespero. Vivemos em um mundo frenético. Precisamos saber, conhecer os resultados, e sofremos enquanto esperamos. Evitar essa dor é o que nos torna impacientes. A tecnologia em particular as telecomunicações — criaram a expectativa do imediatismo. Mas isso pode se tornar uma ilusão e nos levar a considerar como presente algo que ainda está por vir. A expectativa é um sistema fechado que resulta em frustração. Estamos nos acostumando ao imediatismo, evitando a espera. Este é um dos segredos da paciência: o hábito.
Não se nasce paciente. Os bebês choram quando têm fome. Não toleram a insatisfação imediata de uma necessidade primária: o alimento. Pouco a pouco vão aprendendo que, ainda que demore um pouco mais, finalmente lhe darão de comer. Impacientam-se, mas com o tempo aceitam, sem chorar, o sofrimento da fome, porque sabem que o alimento chegará. A natureza da criança é a impaciência, porque poucas coisas dependem delas, porque quase nada está sob seu controle. Outro segredo da paciência: o controle.
Cada vez conseguimos controlar mais situações. O tempo que vai fazer no lugar remoto ao qual programamos uma viagem ou onde está nossa filha adolescente que demora 10 minutos a mais do que o habitual para chegar em casa. Sem dúvida, grandes avanços, mas habituar-se ao controle fomenta a impaciência. A paciência tem de ser treinada, aprendendo a tolerar o sofrimento causado pelo desconhecimento, a incerteza, o descontrole.
Na sociedade do imediatismo, a satisfação de um desejo de forma quase automática se tornou uma nova droga sem nome. No cérebro, funciona mediante dois mecanismos básicos: de um lado, proporciona prazer, reforça os circuitos de recompensa e fomenta a busca, novamente, da sensação prazenteira oferecida pelo cumprimento do objetivo, quanto antes melhor; de outra, colocam em andamento mecanismos para evitar a dor, como acontece quando algo nos incomoda e mudamos inconscientemente às vezes de postura.
O corpo não está preparado para estar em situação de alerta constante. Se desgasta. O sono repara o desgaste, mas a cada vez dormimos menos e, pior, muitas vezes em nome da impaciência, pois dedicamos mais horas para conseguir do que para descansar. O conceito de necessidade se desvirtuou, tanto de ser como de saber e de ter. É impossível subtrair, evitar ou resistir à verdadeira necessidade. Falamos dela cada vez com mais facilidade, quando na verdade se trata de desejos.
Desejar é mais suportável do que precisar, e a elevação do desejo à categoria de exigência envolve riscos, pois uma carência adiada se torna uma urgência. Boa parte da responsabilidade pelo aumento do uso de fármacos para o tratamento da ansiedade e depressão vem dessa tendência de não cultivar a arte da paciência. Viver nesse contexto da urgência é, na realidade, mais danoso do que o possível fracasso em objetivos que consideramos necessários.
Para evitar cair na armadilha do desassossego, a primeira coisa a fazer é tomar consciência de que somos impacientes; depois, avaliar que fatores fomentam nossa inquietude e quais nos protegem. A necessidade de ser paciente é vista como sinal de fraqueza. Os poderosos não esperam, mas depositam em você a satisfação de sua urgência, a responsabilidade por atingir ou não o objetivo.
Não devemos sucumbir a essa tendência. A paciência não é apatia, nem resignação. Não é falta de compromisso, porque não é estática: quem espera com calma faz isso ativamente, se rebela contra a dificuldade. O sossego é otimista, pois a espera ativa implica esperança.
É coragem, pois fixa o olhar no longo prazo. O impaciente considera que o objetivo é a meta, quando na verdade o objetivo é ponto de partida. A paciência é protetora, pois não fica frustrada diante da eventualidade do imediato: nos permite atravessar situações adversas sem fraquejar. É força, pois é paciente aquele que foi capaz de domesticar suas paixões. Mas precisamos treiná-la.
Nos acostumar a esperar e aceitar que ter tudo sob controle é, além de impossível, perigoso. Recapacitar, reorganizar tanto os tempos como as prioridades, refletir. Dizia santo Agostinho que “a paciência é companheira da sabedoria”. Vamos reservar um tempo para observar que algumas coisas podem esperar sem causar sofrimento, e aprender a saborear o prazer da espera.

Autora: Lola Morón

9 de maio de 2018

Almas gêmeas!


A Cabalá já foi descrita como a matemática dos sentimentos; ela é uma ciência espiritual exata, que estudou cuidadosamente como os seres humanos pensam, aspiram e amam. Ela fornece descrições precisas de cada nuance de pensamento e sentimento; nos ensina a harmonizar mente e espírito e a compreender a complexidade do universo. Uma de suas inúmeras vertentes, baseada em indícios cósmicos, consegue responder quem combina com quem ou, o que faz duas pessoas se encontrarem e se manterem juntas?
Alma gêmea é uma expressão cabalista, por isso recorri a essa milenar tradição para entender o seu significado e procurar responder a essas indagações.
Talvez a resposta esteja em um dos escritos do mestre espanhol Joseph ben Abraham Gikatilla (1248 – 1305): “Quando um ser é criado, forçosamente o seu cônjuge é criado de forma simultânea, porque no Mundo Superior não se produz uma alma que não contenha o masculino e o feminino, como está escrito no versículo”. Gikatilla estava se referindo ao versículo 1:27 de Gênesis: “e o Divino passou a criar o homem à Sua imagem, à Sua imagem o criou, macho e fêmea os criou.”
Então é possível entender que, nessa etapa da Criação – no projeto ou na concepção - este ser espiritual, é Uno como seu Criador. É um andrógino reproduzindo por completo a imagem do Divino com todos os seus componentes. Ao tornar este ser carnal, isto é, ao cobrir seu espirito com o pó da terra e soprar nas suas narinas o fôlego da vida, o Criador resolve separar as duas polaridades: Eva foi retirada do lado de Adão porque era uma das metades daquele ser Uno.
O Sefer Há Zohar (o Livro do Esplendor, básico no estudo da Cabalá) também ensina que a nossa alma é una, contemplando as duas polaridades ou os dois aspectos: o masculino e o feminino que, no entanto, são separados quando aportamos neste nosso mundo físico.
Diz o Zohar: “Todas as almas do mundo, que são fruto das mãos do Todo Poderoso, são misticamente uma, mas quando descem a este mundo são separadas em macho e fêmea”. “Só o Criador e nenhum outro, pode uni-los, pois, Ele é o único a saber o par próprio de cada um. Feliz a pessoa que é reta nas suas obras e caminha na verdade, de forma que estas duas partes da mesma alma possam se encontrar”.

Autor: Paulo Cesar Razuk
Professor Titular aposentado do Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Engenharia da Unesp – Campus de Bauru

Deus e eu a sós no espaço!


Percebemos o ambiente por meio de estímulos encaminhados aos nossos olhos e a miríade de terminações nervosas ligadas ao tato, paladar e olfato. Essas sensações são subjetivas por natureza, pois, o mesmo estímulo pode produzir sensações diferentes em cérebros diferentes. Portanto, à incompletude de nossos sentidos devemos adicionar a subjetividade de nossos pensamentos.

Podemos dizer que a realidade permanece velada; ninguém a conhece e tudo é interpretação. Estamos “cegos” para o mundo; não estamos olhando para fora, mas sim para dentro de nossa própria cabeça. Estamos lendo o cérebro e assistindo ao filme que ele quer que vejamos. Somos prisioneiros de um mundo interior, de uma máquina que produz uma realidade virtual. O fato é que nós percebemos somente uma porção ínfima do oceano de vibrações em que estamos imersos.

Imagine aumentar o mundo um milhão de vezes, com as bactérias medindo mais de um metro e um fio de cabelo medindo cem metros de diâmetro. Mesmo com esse aumento, não seriamos capazes de ver um átomo de hidrogênio. Se tudo fosse aumentado ainda mais, o suficiente para deixar uma bola de tênis do tamanho da Terra, o mundo seria cem milhões de vezes maior. Nesse ponto o átomo seria visível. Se então aumentássemos o átomo até que o próton se tornasse visível, seu elétron – que ainda não seria visível – estaria orbitando a uma distância de cem metros. O átomo é um abismo preenchido com elétrons e as partículas do núcleo. Quanto mais se vasculha o abismo, mais se dá conta de que a massa em si não existe. Qualquer objeto que supomos sólido é quase completamente vazio e o vazio é de fato a ausência de percepção.

O mundo sem vazio seria uma massa incompreensível de matéria densa. O vazio dá identidade e forma aos corpos; dentro da matéria ele cria intervalos e espaços que moldam átomos e moléculas. O vazio é o responsável por ampliar e separar a matéria.
As partículas, os átomos e as moléculas estão dançando. Uma pedra, um objeto, um prédio, parecem não se mover nem um pouco, mas, na verdade se movem. Nada está imóvel, a não ser no abismo do zero absoluto. Os elétrons viajam a centenas de quilômetros por segundo, os prótons alcançam velocidades de trinta mil bilhões de bilhões de vezes por segundo. Considerando que cargas elétricas em movimento geram campos magnéticos, tais campos constantemente permeiam tudo.

A Mecânica Quântica demonstrou que ondas e partículas são aspectos diferentes da mesma coisa: massa e energia são intercambiáveis. Numa velocidade muito alta, a massa converte-se em energia e a energia também pode se tornar massa, porque na realidade, massa não é massa, mas energia distorcida pelos nossos sentidos, pela nossa percepção.
Estamos lidando com um mundo de representações sugeridas pelos sentidos e imaginações. Nada é uma certeza. A realidade objetiva é inatingível.
Um poeta sufi escreveu sobre a ideia de se encontrar frente a frente com Deus:
Deus e eu a sós no espaço... ninguém mais a vista...“E onde estão todas as pessoas meu Senhor?”, perguntei, “por que não sinto medo encontrando-O aqui neste momento?”. “Será este o dia do julgamento? ”
Ao que Deus respondeu: “Tudo era apenas um sonho, sonho que não existe mais. Não existe. Você... nunca houve Você no passado. Nada existe, senão Eu”.

Paulo Cesar Razuk
Professor Titular aposentado do Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Engenharia da Unesp – Campus de Bauru

7 de maio de 2018

Alfândega!


‘Não perguntei o que você fazia para não piorar a situação, mas para mudá-la’

“Você tinha noção que a Terra tava aquecendo?”, pergunta o anjo da esquerda. “Tinha”, respondo, sem saber se a consciência da tragédia me deixa mais próximo do céu afinal, eu era dos que acreditavam no problema, não era dos “negacionistas” ou me coloca mais perto do inferno bem, se acreditava, por que não fiz nada? A próxima pergunta, vinda do anjo da direita (vamos chamá-los de AE e AD, daqui em diante), sugere o viés dos meus interrogadores: “Você tinha carro?”. 
Sinto um frio no estômago e tenho medo de que seja um dos últimos frios que sentirei não direi na vida, posto que vida já não há, mas, digamos, na existência. Gaguejo: “Eu, eu, eu separava lixo orgânico e reciclável em casa e quando eu ia pegar tomate no supermercado eu evitava pegar da bandejinha de isopor e –”, “Você ouviu a pergunta”, interrompe o AE, “Tinha ou não tinha carro?”. “Tinha, eu tinha carro”. O AD anota qualquer coisa num retângulo que parece ser um tablet de granito.
AD: “Você tinha consciência de que o Brasil era um dos países mais desiguais e injustos do planeta?”. “Aham”. AE: “E o que você fazia pra mudar essa situação?”. Nessa eu acho que vou me sair bem. “Em primeiro lugar eu não desviava dinheiro, não subornava guarda de trânsito, não–”. O AE se impacienta: “Eu não perguntei o que você fazia pra não piorar a situação, mas pra mudar a situação”. “Bom, eu, eu, eu tentava usar meus textos pra falar desses assuntos todos e contribuía em ‘crowdfunding’ de projetos legais e... Eu doei umas camisetas pros desabrigados do prédio que caiu–”. “Fazia tempo que você queria se livrar daquelas camisetas”, diz o AE. “Que mais?” “Bom, eu, eu tentava votar bem, votar em pessoas que–”, “Em quem você votou pra deputado estadual nas eleições de 2014?”. “É... Pra federal foi na Erundina e–”, “Estadual!”, grita o AE, dando um chacoalhão com as asas que faz umas três penas se descolarem e descerem planando, lentamente, em direção à nuvem. 
“Eu não lembro o nome! Era um cara que prometia lutar pelas escolas da periferia! Não lembro o nome! Eu vou pro inferno por causa disso?!”. Os anjos me encaram por uns segundos. Conferem algo no tablet. “Tô vendo aqui que você tomava cerveja artesanal num bar hipster a seis quadras da cracolândia”. “O serviço era opcional e eu sempre deixava 10%!”. Os anjos me olham feio. “Vinte e cinco reais, um chope?”, diz o AE, balançando a cabeça. 
“Caras, ó, eu podia ter feito mais? Podia! Vendo em perspectiva, agora, parece pouco mesmo, mas a gente tá lá na batalha do dia a dia tem que ganhar dinheiro, pegar criança na escola, dar remédio pra tosse, entregar projeto, recolher o IR... Pô, um pouco de perspectiva, amigo! Eu fui um bom pai, um bom filho, nunca entreguei trabalho nas coxas! Cês tão vendo aí a humanidade! É só ‘trashêra’! Aposto que se pegar aí uma régua com Hitler de um lado e Gandhi do outro, eu tô mais pro lado do Gandhi, não tô?”. 
O AE sorri, mete a mão debaixo da asa. “Foi você quem deu a ideia”. Tira dali uma régua com Hitler de um lado e Gandhi do outro. Meu rosto aparece oscilando entre os dois extremos, procurando seu lugar e num estalo eu penso “Professor Duílio!”, era esse o nome do meu candidato a deputado estadual, “Professor Duílio”, mas agora é tarde, os anjos somem, tudo começa a rodar e.

Autor: Antonio Prata
Escritor, publicou livros de contos e crônicas, entre eles 'Meio Intelectual, Meio de Esquerda'.

Saúde pública em SP funciona apenas na publicidade do candidato a presidência!

“Jornalismo é publicar o que alguém
não quer que seja publicado:
todo o restante é publicidade”
George Orwell

Você consegue imaginar que numa cidade com quase 400 mil habitantes, cuja região tem mais de dois milhões de moradores, no Estado mais rico da Nação num período de 16 meses 117 pessoas morreram à espera de um leito hospitalar? Uma média assustadora de quase oito pessoas por mês.
Isso está acontecendo em Bauru – SP, e não é novidade, o problema infelizmente é recorrente, pois nos últimos dez anos mais de seiscentas pessoas morreram da mesma forma. Sem que o governo do PSDB, cuja gestão completou 24 anos, tenha feito algo para impedir que as mortes continuassem.
A Polícia Civil está investigando as mortes dos pacientes que aguardavam uma vaga em hospitais. Dessas mortes, vinte e cinco foram somente nos primeiros meses deste ano. O problema que se arrasta há anos na saúde pública deve agora ser investigado também pela Polícia Civil.
A Polícia Civil que já havia sido acionada pelo Ministério Público Federal para apurar os casos de pacientes que morreram antes de serem internados. No ano passado, o MPF moveu ação que terminou em condenação do estado e do município em segunda instância pela falta de leitos de internação.
Na época, a Justiça determinou que ambas as partes fossem responsabilizadas com multa diária de R$ 1 mil por paciente que ficasse sem internação. O promotor da saúde em Bauru, Enilson Komono, criticou a postura desses agentes no caso.
Nem mesmo o MPF consegue reverter uma situação que envergonha e entristece o povo paulista. Não há justiça no país que consiga fazer com que o governo estadual (PSDB) no poder desde janeiro de 1995, cumpra com sua obrigação.
No momento em que este artigo é escrito, a cidade tem 38 pacientes esperando no corredor da morte, digo, leitos hospitalares para serem internados. Com o agravante que o mesmo governo estadual fechou o hospital Manoel de Abreu na cidade para uma suposta reforma que não aconteceu mesmo tendo decorrido quase três anos de seu fechamento.
Em visita à região nesta quinta-feira (3), o governador Márcio França (PSB) afirmou que vai investigar os casos de espera prolongada por vagas de internação. O leitor pode perceber que investigações é que não faltam, senão vejamos: MPF, Polícia Civil, Câmara dos Vereadores e agora o próprio governador do Estado dizem que estão ou vão investigar.
A verdade é que as mais de seiscentas mortes nos últimos dez anos não incomodaram as autoridades da cidade e do governo do Estado. Tudo continuou da mesma forma, a sistemática  e cruel espera de vagas pelo sistema CROSS - Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde realizadas em SP, permanecem e a única coisa que se altera são as estatísticas de óbitos.
A eleição será em outubro, esperemos que os demais eleitores façam justiça nas urnas, varrendo os envolvidos da vida pública com seus votos.
Autor: Rafael Moia Filho - Escritor, Blogger e Gestor Público.

2 de maio de 2018

Uma tragédia anunciada por governantes omissos!

Quanto mais corrupção, mais injustiça.
Quanto mais injustiça, mais impunidade.
Quanto mais impunidade, mais violência.
Quanto mais violência, menos felicidade.
Renée Venâncio

O edifício Wilton Paes de Almeida do governo federal foi construído em 1961. Pertenceu a uma empresa privada, que por conta de dividas com a União perdeu seu imóvel. Ali foi instalada a sede da Polícia Federal em SP até ser desocupada em 2001. Aproveitando-se do descaso do Governo Federal para com o dinheiro público, foi invadido por moradores de rua e sem tetos. Esses invasores com certeza não faziam parte das estatísticas habitacionais divulgadas pelo governo estadual (PSDB) nem do governo federal.
Se o Poder Executivo é omisso, o que podemos dizer do poder judiciário? As ações de reintegração de posse tramitam por anos, décadas naquele poder sem que uma solução se encontre para o prédio.
Agora, depois que um incêndio levou o prédio ao seu desabamento, a Prefeitura que até outro dia era ocupada pelo Prefeito Fantasma (João Dória) e o MP procuram causas e “responsáveis” pela tragédia ocorrida em pleno centro da maior cidade do país e da América do Sul.
Com o agravante que o prédio chegou a ser cedido à prefeitura paulistana, que depois veio a devolvê-lo à União, e depois retornou novamente à prefeitura. Atualmente, seu status era “cedido temporariamente” à prefeitura, que buscava há um ano, junto com o Governo federal, uma solução conjunta para retirar as famílias que moravam ali, explicou o prefeito Bruno Covas em coletiva de imprensa. Mas não deu tempo. Havia 372 pessoas vivendo ali. Dessas, 328 confirmaram que saíram com vida.  Ao menos um, que estava sendo resgatado pelos bombeiros por uma corda, caiu junto com o prédio. Há 44 cujo paradeiro é desconhecido. Não se sabe se estavam no interior do edifício. 
tragédia já havia sido anunciada não apenas por moradores e vizinhos do prédio que desabou após um incêndio. O próprio Corpo de Bombeiros já havia relatado oficialmente, em 2015, inúmeras irregularidades que poderiam provocar ou dificultar o combate a incêndios no edifício. De acordo com o porta-voz da Corporação, Marcos Palumbo, um laudo sobre a situação de risco foi encaminhado ao Ministério Público, que seria responsável por tomar providências de prevenção. "A gente verificou que haviam rotas de fuga obstruídas, com lixo e material altamente inflamável, problemas com botijões de gás. Poderiam ser problemas que causassem incêndios e as chamas se espalhassem de maneira muito rápida [...] Nosso papel foi encaminhado ao Ministério Público para que ele promovesse as ações necessárias", afirmou Palumbo em coletiva de imprensa no local do  incêndio.
O MP/SP que não costuma punir governantes da Prefeitura ou do Estado que sejam do PSDB, e muitas vezes se preocupa mais com torcidas organizadas de futebol, informou que o prédio já havia suscitado a abertura de um inquérito civil para apurar possíveis riscos já em 2015, e que de fato não havia um laudo favorável dos bombeiros conhecido como Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB).
Necessário dizer que por trás de todas as invasões existe uma verdadeira indústria que coordena e extorque os pobres coitados dos necessitados que não tem moradia.
É mais uma tragédia que entrará para os arquivos da história sem ter responsáveis investigados, condenados e punidos pelo descaso, pela omissão, pelas mortes e feridos, além de todo prejuízo causado ao erário, aos terceiros e a cidade.

Autor: Rafael Moia Filho - Escritor, Blogger e Gestor Público.