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26 de dezembro de 2018

Partidário do nada!

A prosa de Jorge Edwards, escritor e diplomata chileno, está carregada de uma fina ironia que dá um encanto especial a tudo o que conta eu seu livro de memórias, por onde desfilam personagens fascinantes como Rubem Braga ou Carlos Fuentes.

“Partidário do nada”, declara-se Jorge Edwards no segundo volume de suas memórias, que ele acaba de publicar (Esclavos de la Consigna, editora Lumen). A frase é muito bonita, mas não é verdadeira, porque ele tem suas ideias políticas e literárias bastante claras e as defende com integridade. Mas sempre houve nele uma objetividade e um comedimento que se refletem muito exatamente nesse estilo sereno, demorado, claro e inteligente com o qual escreve suas esplêndidas crônicas e memórias.
Nos anos narrados neste livro, os de sua juventude literária até o instante em que Salvador Allende, recém-eleito presidente do Chile, o envia a Cuba como adido de negócios para reabrir a embaixada que havia estado fechada desde o rompimento das relações entre os dois países, durante o regime de Eduardo Frei Montalva, os sectarismos políticos eram tão apaixonados na América Latina que alguém tão pouco estridente, tão bem educado e tão respeitoso das formas poderia parecer inexistente. A boa prosa de Edwards está carregada de uma fina ironia que confere um encanto especial a tudo o que ele conta no livro.
Ovelha negra de uma antiga família chilena por causa das suas amizades esquerdistas, e esquerdista ele mesmo quando adolescente e em sua primeira etapa de maturidade, os primeiros capítulos de Esclavos de la Consigna (“escravos da palavra de ordem”) se referem sobretudo aos seus primeiros passos no domínio da literatura, como esta vocação foi se impondo sobre todo o resto —seus estudos de Direito, o ano de pós-graduação em Princeton que o marcou com força, seu ingresso na diplomacia, o entusiasmo com que leu Unamuno e a outros escritores da Geração de 98, seus primeiros livros de contos—, e à boêmia pertinaz, feita de hábitos noturnos, álcool e travessuras com as chilenas, talvez as primeiras a alcançarem uma margem de liberdade e independência que o resto das mulheres latino-americanas ainda desconhecia.
Um personagem central na vida de Jorge Edwards foi Pablo Neruda; ficaram amigos desde que ele era muito jovem, e essa amizade permitiu a Jorge conhecer um Neruda muito mais íntimo, a quem descreve nestas páginas com admiração e carinho pela grandeza de sua poesia, mas que também mostra como alguém dominado por dúvidas e angústias políticas secretas que às vezes o devoravam (“Enganei-me” confessou nos anos finais). Também relata os esforços que fez para evitar que Jorge escrevesse Persona Non Grata, seu testemunho crítico sobre a Revolução Cubana, que seria lido em todo mundo e que lhe traria —como anteviu o poeta— uma tempestade de críticas de uma ferocidade sem precedentes por parte de uma esquerda deslumbrada com a suposta “revolução com festa” de Cuba. Aqui conta como o próprio Julio Cortázar, recém-convertido à Revolução naqueles anos, confessou que, apesar de serem amigos, preferia não voltar a vê-lo por ter escrito aquela memória.
Conheci Jorge nesses anos, recém-chegado a Paris como terceiro-secretário da embaixada do Chile. Ficamos muito amigos, nos fazíamos visitas literárias nos fins de semana e trocávamos livros. Era então mais para o tímido, mas, depois de dois whiskys, saltava sobre uma mesa e, muito sério, interpretava uma endiabrada “dança hindu” que consistia em mover ao mesmo tempo a cabeça, as mãos e os pés. Tenho certeza de que cumpria suas funções diplomáticas de maneira cabal, mas a literatura foi sempre sua primeira prioridade; já desde então costumava se levantar ao alvorecer para escrever —sempre à mão, em folhas brancas e com canetas de tinta azul—, e assim li eu seu primeiro romance, El Peso de la Noche, que está sempre vivo em minha memória, tanto como nossas discussões sobre se Dostoievski ou Tolstói era o melhor escritor (eu defendia Tolstói).
Pelo livro desfilam uma série de personagens fascinantes, como o brasileiro Rubem Braga, Carlos Fuentes, “com sua cara de prócer da Revolução Mexicana”, e Enrique Bello, um sibarita que me confessou uma noite que estava feliz por ter conseguido materializar um sonho epônimo; perguntei-lhe qual era e me respondeu, muito sério: “Dar à carne bovina um tratamento que a faça parecer carne de caça”. Talvez o mais terno deles seja o apelidado de Queque Sanhueza, intelectual e erudito bibliógrafo que parecia extraviado neste mundo (salvo dentro de uma biblioteca), pequeno ele mesmo e apaixonado por mulheres muito altas e musculosas, que se acidentou ao montar numa bicicleta na ilha grega de Leros e morreu em Santiago, sem ter entendido uma palavra daquela terra, mesmo depois de ter lido milhares de livros. Seu diálogo com o pope [sacerdote da igreja ortodoxa grega] que descobre ao seu lado, depois do acidente naquela ilhota grega, é memorável.
E a fugaz aparição de Pepe Bianco, o eterno secretário de redação da revista SUR, em Buenos Aires, que “aspirava a ser pobre, já que agora era menos que pobre, miserável”. Que eu me recorde, Pepe Bianco só publicou um par de livros —em todo caso, são os únicos que li dele—, mas era um desses intelectuais argentinos que tinham lido a melhor literatura do mundo em cinco idiomas e opinava sobre ela com um gosto literário delicioso e infalível. García Márquez não aparece em pessoa, mas sim Cem Anos de Solidão, cuja “fantasia excessiva”, diz Edwards, “o aborreceu”. (Sobre isto poderíamos ter também uma dessas discussões apaixonadas da nossa juventude.) E é perversa a aparição do poeta e escritor sueco – ainda por cima hispanista – Artur Lundqvist, “que parecia convencido de um curioso axioma político e literário: o escritor partidário de Fidel Castro e do castrismo era necessariamente bom escritor, e vice-versa”. Também é inesquecível a imagem, durante o Congresso Cultural de Havana, do pintor Roberto Matta e outros surrealistas dando pontapés no traseiro do veterano David Alfaro Siqueiros e gritando “por Trotski!” a cada chute.
Uma dimensão muito especial neste livro é o testemunho político. É surpreendente saber que, se alguém anteviu a catástrofe que poderia sobrevir com a eleição de Salvador Allende e as reformas que a Unidade Popular prometia, esse alguém foi Neruda. Perguntaram-lhe se votaria em Allende e, pesaroso, ele disse: “Não tenho outro remédio”. Mas Matilde Neruda votou em Radomiro Tomic. E aqui aparece o poeta, angustiado com os pesadelos com o que poderia ocorrer no Chile —ou seja, o flagelo radical de Pinochet— ante a perspectiva de que o radicalismo da Unidade Popular desestabilizasse a solidez democrática de seu país.
Estas instituições estavam muito arraigadas, de fato. Só no Chile democrático de então poderia um diplomata, como fazia Edwards, ir comigo à embaixada de Cuba em Paris a cada 26 de Julho para celebrar a Revolução de um país com o qual seu governo estava em um questionamento inflamado (tanto que haviam rompido relações). E, apesar do esquerdismo de Edwards de então, o ministro das Relações Exteriores de Frei Montalva, o democrata-cristão Gabriel Valdés, ligava para ele consultando-o sobre escritores e a política cultural do Governo. Bons costumes que, felizmente, logo depois do pesadelo da ditadura militar voltaram ao Chile e que este livro recria com delicadeza e humor.

Autor: Mario Vargas Llosa - Direitos mundiais de imprensa em todas as línguas reservados a Edições EL PAÍS, SL, 2018.

21 de dezembro de 2018

A democracia virou um Fla X Flu nas redes sociais!

A lei de ouro do comportamento é a tolerância mútua,
já que nunca pensaremos todos da mesma maneira,
já que nunca veremos senão uma parte da verdade
e sob ângulos diversos. Mahatma Gandhi

Bons tempos em que algumas discussões sobre política e a nossa democracia se limitavam a encontros de amigos em residências, bares e restaurantes. A tecnologia expandiu essas discussões para a internet. Hoje as redes sociais se transformaram em Fórum Oficial para discussões sobre a vida política do país. Para a democracia isso é muito bom, pois garante o direito a discussão e a informação. Porém, essa liberdade de expressão veio acompanhada de notícias falsas, mentiras, impropérios, brigas e discussões desnecessárias.
A maior parte das brigas envolve um partido que é odiado por milhões e seguido por outro tanto de pessoas de diferentes classes sociais. Quem segue e vota no partido dos trabalhadores não aceita que falem nada referente aos membros do partido, mesmo que seja verdade. Por outro lado, os que odeiam às vezes exageram e confundem o militante com o eleitor e até mesmo o político do partido.
Nestas discussões muito se fala de corrupção, porém, apenas aquela que envolve o PT, pois, as mesmas pessoas não denunciam, criticam ou postam algo sobre a corrupção que envolve os demais políticos de outros partidos. Estes em tese podem roubar a vontade que não serão importunados nas redes sociais ao menos.
Este clima de arquibancada de estádio de futebol em tarde de Fla X Flu, como dizia o eterno dramaturgo Nelson Rodrigues - “O Fla-Flu não tem começo. O Fla-Flu não tem fim. O Fla-Flu começou quarenta minutos antes do nada. E aí então as multidões despertaram”.
Enquanto não estava no poder, o PT e aqueles que se diziam petistas, incomodaram muito os que eram adeptos de outros partidos e até os que eram completamente neutros na política partidária. Foram alguns anos em que diziam que tudo iria mudar somente quando o partido dos trabalhadores chegasse ao poder. Isso então aconteceu na eleição de outubro de 2002.
A partir de janeiro de 2003, o PT tomaria posse do governo federal e ficaria neste poder até agosto de 2016, quando aconteceu o final do processo de Impeachment de Dilma Rousseff. Quando surgiram as primeiras denúncias de corrupção envolvendo figuras proeminentes do partido, os antipetistas surgiram e começaram a se multiplicar.
 A verdade é que a partir das eleições de 2014 com a presença das redes sociais e do aplicativo de celulares WhatsApp, as discussões e o clima aumentou de tom e intensidade. O chamado Fla X Flu estava restrito no campo político a disputa entre o PT e o PSDB. Foram quatro eleições durante doze anos com candidatos dos dois partidos, com a agressividade aumentando a cada novo pleito. O termômetro entre os eleitores foi crescendo e passando da internet para as redes sociais e depois para o WhatsApp com uma intensidade sem igual.
Até que em 2018, quando se esperava uma eleição tranquila, visto que Lula estava preso e não poderia participar do pleito, as coisas pioraram e muito. Todos que foram enganados por Aécio Neves e sua suposta honestidade de fachada se uniram com os céticos, os neutros e começaram a apoiar o candidato do PSL – Jair Bolsonaro. As discussões aumentaram em relação ao embate anterior entre PT e PSDB, levando a mais brigas e discussões.
O que a maioria não enxerga, é que, precisamos exercer nossa cidadania de uma forma mais efetiva e produtiva. Fiscalizando os eleitos, cobrando os governantes e os vereadores de nossa cidade, deputados e senadores de nossos Estados. Procurando o MP quando tivermos denúncias a fazer contra órgãos públicos em qualquer instância.
Votar é um momento importante da democracia, porém, não é nem de longe o mais significativo. Ficar ofendendo quem não pensa como você ou vota em outro partido ou candidato, não é motivo para desgastes e brigas. Postar inverdades é sorrateiro, antiético e não leva a lugar algum. Sejamos cidadãos de primeira linha, atuemos em defesa da pátria, das leis e da ordem com exemplos e atitude, não com postagens mentirosas e difamadoras.
Autor: Escritor, Blogger e Gestor Público

O ritual para se abrir a cesta de natal!

Quem compra tais cestas? Indagávamos e ficávamos peruando, indo de lá para cá a olhar para as caras de possíveis compradores.

Todos os anos, chegam em casa duas cestas de Natal, às vezes ao mesmo tempo, às vezes com diferença de dias. Uma vem da Global que publica meus livros há 35 anos. A outra de uma amiga, Lygia Carvalho, autora de um delicioso livro sobre Santos, mulher que discorda de mim em muitas coisas, principalmente em política, mas somos a prova de que opostos podem conviver, com respeito. O importante é que nestes dias as duas cestas provocam minha memória afetiva. Trazem de volta um dos rituais mais encantadores de minha infância. A abertura da única cesta de Natal que tivemos.
Araraquara, anos 1940, plena guerra. A Mercearia Lauand deixava a mim e ao Luiz Gonzaga, meu irmão mais velho, deslumbrados com a decoração natalina e com as cestas de Natal abertas, revelando tesouros como figos secos, tâmaras, nozes, castanhas de Portugal, latas de sardinha, vinhos (de onde seriam?), torrones, damascos (só sabia que existiam pelos filmes sobre o Oriente, estrelados por Maria Montez e John Hall), passas americanas em caixinhas vermelhas, caixas de bombons, vidros de azeitonas, latas de marmelada, pessegada, goiabada, azeite, temperos.
Quem compra tais cestas? Indagávamos e ficávamos peruando, indo de lá para cá a olhar para as caras de possíveis compradores. Certa vez, um senhor, nos disseram que da família Lia, entrou e escolheu duas. Quase caímos de costas. Nas nossas cabeças só quem podia comprar aquilo seria um Morganti, um Lupo, um Gravina, um Albiero, um Blengini, um Tedde Neto, um Chiquinho Vaz, um Dindin Garita, um Rubinho Lombardi, um Zaramella, um Somenzari, um Vono, um Barbieri. Cestas eram inacessíveis a gente como eu. 
Até o dia em que meu pai chegou em um carro de aluguel do Ponto da Matriz, ouvi barulho, corri abrir e ele entrou majestosamente com uma cesta de Natal nas mãos, depositou-a sobre a mesa da sala. Mamãe veio da cozinha, enxugando as mãos no avental. Havia sempre uma sopa à tarde, substanciosa e barata. Quente, queimava a língua naqueles dias causticantes de dezembro na cidade onde mora o sol.
“Que loucura é essa Totó?” Era o apelido de meu pai, de nome Antônio.
“Comprei!” Meu irmão veio afobado: “Vamos abrir logo, ver o que tem”.
“Nada disso”, disse mamãe, imperativa. “Primeiro, todo mundo toma banho, põe roupa limpa, janta. Depois arrumamos a cozinha e vamos abrir. Uma cesta de Natal, e esta é a nossa primeira, é muito importante, coisa séria.”
Desta vez, Luiz e eu brigamos para entrar correndo no banheiro, quando sempre era o contrário – vai você; não, vai você; não, pode ir. Banho tomado, sabonete Gessy, todos vestidos, bonitos, engolimos a sopa velozmente, vendo que papai fazia o mesmo, tão ansioso como os filhos. Não teve sobremesa, aliás nem se usava, a não ser em certos dias. Papai tomou leite frio com farinha de milho, um hábito da vida inteira. Cozinha limpa, portas abertas, o ar parado, cigarras cantando, revoada de andorinhas (desapareceram da cidade), papai ligou o rádio, ouvia-se a Hora do Brasil, odiosa e chata desde aquela época.
“Como conseguiu comprar, Totó? Nunca me disse nada.”
“Surpresa. Desde janeiro, a cada mês separei um dinheiro. Ficou naquela caixa de sapatos da Casa Barbieri no fundo do guarda roupa. Quando chegou novembro, tinha o dinheiro, fui lá, escolhi.”
Claro que não existia poupança, nada disso, cada um guardava seu dinheiro como podia, quem tinha conta no banco recebia um juro por mês, e somente os chiques tinham conta. A verdade é que, retiradas as finas fitas de papel e uma palha que protegia tudo, as maravilhas foram saltando. Meu pai sabia fazer suspense e criar clima, afinal, o irmão dele, tio Geraldo, era o melhor rádio ator da PRD-4, Rádio Cultura, que para orgulho geral nasceu antes da Rádio Nacional do Rio de Janeiro.
Para desespero nosso, não pudemos tocar em nada daquilo espalhado sobre a mesa, iluminado por lâmpadas de 50 velas, afinal era tempo de guerra e devíamos economizar energia. Teríamos de esperar oito dias até o Natal. Anos mais tarde quando vi o filme Os Últimos Passos de Um Condenado à Morte, soube o que é esperar dia a dia, contando horas, minutos, segundos, até sentar-se na cadeira elétrica ou na câmara de gás. Segundo a segundo até colocar a mão em uma passa, uma castanha, um chocolate, um damasco, uma castanha assada, um torrone Montevergine. Para enfim atirar-nos com volúpia às delicias da cesta que, esgotada, ficou no alto de um guarda-roupa na casa dos meus pais, por anos e anos, guardando recortes de jornal, papel de presentes, contos que meu pai vez ou outra mostrava, fotos de mamãe solteira, uma carta dela para ele, em que as palavras estavam escritas com as silabas todas ao contrário, um código pessoal, que nunca deciframos. Quais segredos eram trocados por um casal que vivia junto o tempo inteiro, nunca se desgrudava? Um dia, a cesta desapareceu. 

Autor: Ignácio de Loyola Brandão – O Estado de São Paulo

O ressentimento das classes médias do Brasil

Após a eleição de Jair Bolsonaro, os partidos derrotados já têm consciência de que é preciso entender o que sente a sociedade, mas não têm clareza sobre como resgatar a esperança popular.

Não foi apenas o PT que perdeu seu contato com a população. O PSDB cometeu o mesmo erro, com estragos talvez maiores. A rigor, a classe política saiu desestruturada das eleições e agora precisa de realinhamento. Não está claro em que direção e sob qual liderança.
A novidade com a qual os políticos não contavam é o profundo ressentimento das classes médias pelos políticos. Hoje se sentem lesadas por governos alienados, que não entregaram o que prometeram e, mais do que isso, que preferiram fazer o jogo do poder, tomaram as instituições do Estado e desviaram recursos públicos, em grande parte das vezes nem para a “causa”, mas para proveito próprio, como a Operação Lava Jato sobejamente demonstrou.
As classes médias se sentem lesadas por governos alienados, que não entregaram o que prometeram e preferiram fazer o jogo do poder Foto: Marcos Müller/ Estadão
Esse ressentimento popular não é fenômeno exclusivamente brasileiro. Por toda parte aparece como adesão das classes médias a lideranças comprometidas com propostas autoritárias, populistas, xenófobas, de grande aversão aos imigrantes e, do ponto de vista da política econômica, eivadas de protecionismo.
É o que se viu com a eleição do presidente Trump nos Estados Unidos; com o Brexit; com as seguidas derrotas eleitorais da chanceler Angela Merkel, na Alemanha; com a ascensão de Matteo Salvini, na Itália, e de Recep Erdorgan na Turquia; com a força obtida pela direitista Marine Le Pen, na França; e, ainda, com o fortalecimento dos partidos da direita nacionalista na Áustria, na Hungria e na Polônia.
Aqui no Brasil, o ressentimento começou a aparecer mais fortemente nas manifestações de 2013 e, em seguida, nas furiosas batalhas digitais via WhatsApp que culminaram nas últimas eleições cujos resultados mostraram o repúdio às práticas da política tradicional.
Em seu livro Como as Democracias Morrem, Steven Levitsky e Daniel Ziblatt (Editora Zahar, na edição em português) analisam o caso dos Estados Unidos. E pontuam que, nos últimos anos, o Partido Democrata ignorou o crescente descontentamento e as reivindicações das classes médias. Ateve-se, mais do que deveria, ao atendimento das chamadas políticas de identidade (direitos das minorias) e se esqueceu de lidar com “as preocupações com a subsistência de segmentos há muito negligenciados da população – qualquer que seja sua etnia”. Por isso, foi duramente punido com a derrota da candidata Hillary Clinton nas eleições que conduziram Donald Trump à Casa Branca.
O discurso de campanha do presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, inicialmente mostrou forte hostilidade aos pleitos das minorias. Em seguida, foi suplantado pelo silêncio. Depois de eleito, as manifestações do presidente passaram a dar ênfase ao resgate das finanças públicas ao crescimento econômico e à criação de empregos. 
Não está claro se terá sucesso na empreitada porque, a partir de tudo o que já se sabe, não há certeza de que consiga fazer uma administração adequada. Tudo se passa como se Bolsonaro não soubesse nem o que fazer nem por onde começar. Diz e desdiz coisas com grande desenvoltura. Um dia afirma que é preciso fundir o Ministério da Agricultura com o do Meio Ambiente; dias depois, retira o que disse. No outro, comunica que vai transferir para outro ministério as funções do Ministério do Trabalho. Depois de desistir da ideia, voltou a nela insistir, mas acabou por decidir pelo que pretendia no início: questões relacionadas com Trabalho vão, afinal, para outros ministérios.
Já avisou que denunciará o Acordo de Paris, mas em seguida pareceu ter recuado. Suas posições a respeito da reforma da Previdência também são desencontradas. E, mais que tudo, será preciso ver até que ponto terá respaldo do Congresso para a aprovação das pautas para as quais afinal se decidirá, num ambiente global que pode não ser exatamente o mais favorável, diante das ameaças de recessão econômica que se cristalizam, principalmente na Europa.
Já há boa consciência nos partidos derrotados no Brasil de que é preciso refundar tudo e que é preciso entender o ressentimento das classes médias claramente expressado nas urnas. Mas não há clareza sobre o que fazer e de que forma resgatar a esperança popular.
O desarmamento dos espíritos e, com ele, o desmanche das ameaças autoritárias no Brasil virão mais ou menos naturalmente se as reformas forem atacadas com energia e se a economia recuperar-se sustentadamente.

Autor: Celso Ming, O Estado de S.Paulo.

18 de dezembro de 2018

Mensagem do Blog para as Festas de Final de Ano

     
     Como tem acontecido nos últimos tempos, o ano parece que mal começou e já estamos chegando ao seu final. Cá estamos diante dos festejos natalinos e de passagem de mais um ano em nossas vidas. Agradecemos a Deus pela nossa saúde, de nossos familiares queridos e de nossos amigos. 
     Agradeço também as milhares de pessoas, que acessaram o conteúdo do meu Blog, nos mais diversos locais desse nosso mundo gigante fisicamente, mas pequeno do ponto de vista digital.
    Neste ano de 2018 foram aproximadamente 22.500 acessos mensais perfazendo um total de 677 mil acessos desde que o Blog foi lançado há dez anos. Agradeço aos amigos que compartilham os textos e artigos nas suas redes sociais, levando a mais pessoas o que escrevo e o que também é publicado de articulistas renomados de diversos canais de comunicação do nosso país. 
     Este ano foi especial para mim, pois lancei um novo livro, me formei novamente aos 60 anos em Gestão Pública, e meu filho caçula entrou na Unesp para cursar Sistemas de Informação. E minha esposa está curada depois de cinco anos do final de seu tratamento, muitas bençãos e o agradecimento a Deus por elas.
     Espero sinceramente que todos tenham um 2019 muito melhor do que foi 2018, e que possamos rir mais, ler mais, ouvir cada dia mais e nos informar sempre, para que nosso alicerce de informações e cultura nos faça mais fortes perante os problemas que enfrentamos em nosso cotidiano. Sejamos felizes, pratiquemos o amor e façamos com que a Corrente inquebrantável do Bem seja estendida a todos que estejam ao nosso redor.
Obrigado
Autor: Rafael Moia Filho – Blogger, Escritor e Gestor Público. Autor dos Livros O tempo na varanda, O humor no trabalho e De Sarney a Temer – Nossa incipiente democracia.
 

Os gabinetes dos políticos precisam de assepsia!

Há pessoas neste mundo que gastam
todo o seu tempo à procura da justiça,
não lhes sobrando tempo algum
para a praticarem. Henry Billings Brown

Desde há muito tempo ouvimos histórias verdadeiras sobre os absurdos que acontecem envolvendo os funcionários que trabalham nos gabinetes dos nossos parlamentares em todas as instâncias políticas do Poder Executivo. Das Câmaras Municipais ao Congresso Nacional passando pelas Assembleias Legislativas Estaduais os casos são muitos. Todos com uma coisa em comum – O dinheiro envolvido é oriundo dos nossos impostos, somos em tese, os patrões dos parlamentares e de seus asseclas.
Pegando carona no que foi denunciado recentemente pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras – COAF, temos várias ocorrências acontecendo sem que muitas vezes sejam levadas a público, por medo de denunciar políticos com poder, por simples omissão ou conveniência.
Uma delas é aquela em que o assessor contratado para trabalhar no gabinete do político (Vereador, Deputado ou Senador), fica em casa recebendo os vencimentos comodamente, ou mantendo negócio próprio como a Dona Walderice Santos da Conceição, que embora contratada para trabalhar na Câmara Federal no gabinete de Jair Bolsonaro, ficava cuidando de sua barraca de Açaí em Angra dos Reis, distante 1.048 km de Brasília.
 Wal da Loja do Açaí em Angra dos Reis -RJ
Outro caso envolve a funcionária Nathalia Melo de Queiroz, que entre dezembro de 2016 e outubro deste ano, era secretária parlamentar lotada no gabinete de Flávio Bolsonaro na ALERJ. A informação de que ela atuava como personal trainer ao mesmo tempo em que estava lotada nos gabinetes foi divulgada pelo site o Antagonista e pela Folha de São Paulo.
Outro fato corriqueiro acontece quando o político cobra um percentual do contratado em nome do partido, da indicação, etc. Muitos já passaram por esta situação, e só percebem quando vão receber seu primeiro vencimento. Alguns se recusam e saem do serviço, porém, ficam com receio de denunciar o caso.
O ex-assessor do deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL), o tenente-coronel da Polícia Militar do Rio de Janeiro Wellington Servulo Romano da Silva, cujo nome aparece em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), passou 248 dias em Portugal enquanto trabalhou com o parlamentar na Assembleia Legislativa do RJ (Alerj). O caso foi revelado pelo Jornal Nacional desta quarta-feira (12).
Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou uma série de transações financeiras atípicas em contas de assessores de parlamentares, entre eles, o deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL), filho do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).
Segundo o Coaf, Fabrício José Carlos de Queiróz, policial militar e ex-assessor de Flávio Bolsonaro, movimentou R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017 em sua conta bancária. Há poucas informações sobre o destino dos recursos, mas segundo o relatório, uma das transações é um cheque de R$ 24 mil destinado à futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Queiroz com a família Bolsonaro
Claro que, sabemos existir vários casos iguais ou piores acontecendo sem que a mídia tenha tido acesso, ou que ainda não foram identificados pelo COAF. Mas a pergunta que fica no ar é a seguinte:
_ Para que o candidato do PSL e seus filhos foram eleitos? Não era para acabar justamente com a corrupção, com os desmandos e a mau uso do erário? Não são eles que acusam a todos de serem corruptos?
Jogar palavras ao vento é relativamente fácil, dar exemplo de probidade e ser honesto é o difícil neste meio político carcomido pela Lei de Gerson e pelo maldito jeitinho brasileiro. 

10 de dezembro de 2018

A inovação tecnológica que não chega a nossa indústria!

Os problemas nunca vão desaparecer
mesmo na mais bela existência.
Problemas existem para serem resolvidos,
e não para perturbar-nos. Augusto Cury

Persiste no país a manutenção de um esqueleto legal e institucional muito frágil quando falamos das nossas atividades produtivas. Uma estrutura que não tem capacidade para superar de forma eficiente as muitas peculiaridades que norteiam o campo da propriedade intelectual. Boa parte destas dificuldades se originam do fato de o país não utilizar um marco regulatório correto.
Segundo a Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec) publicada pelo IBGE, entre os problemas e dificuldades de alta relevância, estão os elevados custos para implantação de inovações, os riscos econômicos e a escassez de fontes de financiamento. O custo do dinheiro no Brasil ainda é muito alto e às vezes inviável para certas operações em grandes empresas.
Apesar dos custos elevados para inovação, temos de ressaltar que o país avançou, com destaque para os fundos setoriais, a equalização das taxas de juros do Fundo Verde Amarelo (2002), a Lei da Inovação (2004) e a Lei do Bem (2005).
Outro problema são os riscos econômicos, que envolvem a nossa conjuntura econômica instável quanto às atividades produtivas inovadoras, que normalmente demandam pesados investimentos. Porém, é preciso ter confiança na política governamental, algo que está muito difícil em nosso sistema político vigente.
A confiança é palavra chave quando se trata de investimento industrial, ela escasseia em regimes de governo que prometem o que não podem cumprir ou que concedem benefícios sem ter lastro para suportá-los financeiramente.
O terceiro aspecto que é a escassez de fontes de financiamento de longo prazo, num país de mercado de capitais pequeno, essa situação não chega a ser novidade para os empresários. A maioria das empresas acaba recorrendo a usar recursos próprios, uma vez que o crédito privado é escasso e caro.
Nosso sistema educacional continua sendo outro agravante para a inovação, apesar do crescimento da participação no ensino superior, persiste o problema da baixa qualidade do ensino no Brasil.
Neste sentido, na relação entre inovação e formação científica e gerencial, preocupa o perfil daqueles que saem das instituições de ensino superior, pois a grande maioria ainda é egressa de humanas, deixando carente daqueles que são advindos da engenharia e ciências exatas em geral, as chamadas Hard sciences.
O caminho é longo, sinuoso e repleto de interdependência do sistema política brasileiro, hora saindo do domínio petista e caminhando para quatro anos ao menos de um governo mais a direita no aspecto ideológico. Resta saber se haverá um esforço e aplicação de um Projeto Político que contemple a inovação do parque industrial nacional. Resta esperar, porém, o tempo urge.


Autor: Rafael Moia Filho - Escritor, Blogger e Gestor Público.

8 de dezembro de 2018

A nova velha política de novo?

Aquele que diz uma mentira não
sabe a tarefa que assumiu, porque está
obrigado a inventar vinte vezes mais
para sustentar a certeza da primeira"
Pope

Finda as eleições, o novo presidente eleito começa a trabalhar na transição do governo atual de Michel Temer – MDB, para estar preparado para assumir em janeiro de 2019, sem ter maiores surpresas dentro da administração federal. Outra preocupação do futuro presidente é escolher sua futura equipe, seus auxiliares diretos, ministros, secretários, presidentes de estatais e demais órgãos federais.
Até o momento, estas duas atividades estão sendo realizadas normalmente, em que pese o discurso de que haverá redução de ministérios não estar batendo com as indicações e informações disponíveis. Ou seja, reduzir ministérios não é juntar três pastas dentro de uma nova a ser criada. Reduzir significa fechar pastas e órgãos federais que se julguem supérfluos a luz da economia que se pretende realizar.
No governo Sarney havia 24 ministérios, Collor reduziu para 14 em sua curta gestão. Itamar dobrou este número para 28 pastas. Lula teve em média 33 ministérios e Dilma 39. O novo presidente diz à imprensa que pretende reduzir os ministérios, porém, ao mesmo tempo sinaliza que vai criar o Ministério da Família para poder contemplar o amigo fiel Magno Malta.
E quem é Fabrício José Carlos de Queiroz? O que ele tem a ver com o novo governo? Seu nome surgiu numa investigação do COAF – Conselho de Controle de Atividades Financeiras, onde foram apontadas movimentações financeiras suspeitas no valor de um milhão e duzentos mil reais. Esse valor inclui saques, transferências, créditos em suas contas, entre outras operações.Ele era ex-assessor parlamentar e motorista do Senador eleito Flávio Bolsonaro, além de amigo da família com quem convive há muito tempo.
Boa parte das movimentações financeiras em que a outra parte é identificada se refere a transações com membros do próprio gabinete de Flávio Bolsonaro. Sete nomes que constam do relatório fizeram parte da equipe do deputado estadual. Três são parentes de Queiroz. Estão na lista Márcia Oliveira de Aguiar (mulher), Nathalia Melo de Queiroz e Evelyn Melo de Queiroz (filhas). Todas também integraram em algum momento o gabinete de Flávio Bolsonaro.
Ex-Assessor pescando com Jair.
Enquanto isso o futuro chefe da casa civil Onyx Lorenzone se vê as voltas com explicações sobre o recebimento de propina que se transformaram em Caixa 2, já confessadas pelo próprio Onyx, oriundas da JBS. Ele inclusive se irritou numa entrevista coletiva abandonando-a por conta das insistentes perguntas dos jornalistas. 
Ainda segundo a investigação da COAF e seus desdobramentos, parte dela, da Lava Jato que prendeu deputados estaduais cariocas, R$ 24 mil desse montante foram destinados à atual esposa do presidente eleito, Michelle Bolsonaro. O caso foi revelado pelo repórter Fábio Serapião, do jornal O Estado de S. Paulo. Jair Bolsonaro afirmou, nesta sexta, que o valor se refere a uma dívida pessoal que o ex-assessor e policial, Fabrício José de Queiroz, tinha com ele.
Em meio a essas denúncias em SP, à deputada eleita Joice Hasselmann (PSL-SP), trocou farpas pontiagudas e acusações com o também eleito Deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ). A briga acabou envolvendo o também eleito Major Olimpio (PSL-SP) e a troca de ofensa entre o Major e a deputada acabou vazando no WhatsApp, o que deixou ainda mais nervosos os envolvidos.
Para completar a confusão a afilhada de Magno Malta, sua ex-assessora Damares Alves recém-nomeada para ser a nova Ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, além de ter a FUNAI sob suas asas no ministério novo a ser formado tem suas afirmações expostas na internet sobre seus posicionamentos ortodoxos a respeito da mulher, família e da comunidade indígena.
A simples menção de que a FUNAI ficaria sob o controle do Ministério de Damares, causou indignação imediata dos servidores da FUNAI. Ela é vista por eles como uma missionária com atuação religiosa em aldeias indígenas.
A futura ministra é fundadora da instituição e Movimento Atini - Voz Pela Vida, uma organização que se apresenta com a missão de “promover a conscientização e a sensibilização da sociedade sobre a questão do infanticídio de crianças indígenas”.
Em 2015, o Ministério Público Federal no Distrito Federal entrou com uma ação contra a Atini por “dano moral coletivo decorrente de suas manifestações de caráter discriminatório à comunidade indígena”, em função da divulgação de um filme sobre infanticídio indígena feito pela organização. Os procuradores pedem que a ONG seja condenada a pagar R$ 1 milhão.
Pois é, justamente essa pessoa sem aparente equilíbrio emocional a indicada por Magno Malta para a escolha de Jair Bolsonaro, para ocupar um Ministério que terá decisões envolvendo Família, Mulher, Direitos Humanos e a comunidade Indígena... Se queria fortes emoções acertou em cheio, caso contrário, irá se arrepender em breve.
Nem bem tomou posse e o novo governo comandado pelo velho deputado já está à volta com assuntos altamente indigestos como Caixa 2, investigações da COAF, escândalos envolvendo filhos, brigas entre partidários do seu partido. Tomará que tudo seja resolvido e nada mais apareça antes, durante ou depois da posse.Afinal, a promessa e as mensagens de Fake News diziam outras coisas para os incautos eleitores durante a campanha.

Autor: Rafael Moia Filho - Escritor, Blogger e Gestor Público.

https://brasil.elpais.com/brasil/2018/12/07/politica/1544221154_543473.html 

7 de dezembro de 2018

Irmãos em livros!

Quanto mais aprendemos, mais queremos ir às livrarias.
Livraria da Travessa, em Ipanema, no Rio - Reprodução Facebook           
           Outro dia, num táxi, o motorista me disse que “gostava de ler” e comprava “muitos livros”. Dei-lhe parabéns e perguntei qual era sua livraria favorita. Respondeu que “gostava de todas”, mas, de há alguns anos, só comprava livros pela internet. Ah, sim? Comentei que também gostava de todos os táxis, mas, a partir dali, passaria a andar só de Uber. Ele diminuiu a marcha, como se processasse a informação. Virou-se para mim e disse: “Entendi. O senhor tem razão”.
  Tenho amigos que não leem e não frequentam livrarias. Não são pessoas primitivas ou despreparadas apenas não têm a bênção de conviver com as palavras. Posso muito bem entendê-las porque também não tenho o menor interesse por automóveis, pela alta cozinha ou pelo mundo digital nunca dirigi um carro, acho que qualquer prato melhora com um ovo frito por cima e, quando me mostram alguma coisa num smartphone, vou de dedão sem querer e mando a imagem para o espaço. Nada disso me faz falta, assim como o livro e a livraria a eles.
   No entanto, quando entro numa livraria, pergunto-me que outro lugar pode ser tão fascinante. São milhares de livros à vista, cada qual com um título, um design, uma personalidade. São romances, biografias, ensaios, poesia, livros de história, de fotos, de autoajuda, infantis, o que você quiser. O que se despendeu de esforço intelectual para produzi-los e em tal variedade é impossível de quantificar. Cada livro, bom ou mau, medíocre ou brilhante, exigiu o melhor que cada autor conseguiu dar.
   Uma livraria é um lugar de congraçamento. Todos ali somos irmãos na busca de algum tipo de conhecimento. E, como este é infinito, não nos faltarão irmãos para congraçar. Aliás, quanto mais se aprende, mais se vai às livrarias. 
   Lá dentro, ninguém nos obriga a comprar um livro. Mas os livros parecem saber quem somos e, inevitavelmente, um deles salta da pilha para as nossas mãos.

Autor: Ruy Castro
Jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues. Texto publicado na Folha de SP.

6 de dezembro de 2018

Nada cai do céu quando tratamos de gestão pública!

“Há os que lutam uma vez e são importantes.
Os que lutam muitas vezes e são fundamentais.
E há os que lutam sempre, esses são imprescindíveis”.
Brecht
Uma gestão pífia é aquela que não consegue governar exercendo sua liderança calcada na verdade, enfrentando com transparência todas as dúvidas para poder convencer a sociedade daquilo que está sendo proposto ou realizado.
No Brasil os gastos públicos aumentam a cada ano, independente da política econômica adotada. Somente o Poder Judiciário sozinho quadruplicou seus gastos com folha de pagamento nas últimas duas décadas.
Estas despesas realizadas de forma incorreta são na verdade uma das fontes da estagnação da nossa economia, das injustiças sociais e da corrupção. Claro que não podemos nos esquecer das irmãs gêmeas: ineficiência + desperdício, que juntas despejam bilhões no ralo e nos deixam cada ano mais longe do desenvolvimento sustentável e de uma economia em crescimento.
Os exemplos neste sentido são vários e podem ilustrar a gravidade desta situação:
  Ø O escoamento da nossa safra agrícola tem um dos maiores desperdícios do mundo e são realizados por nossas rodovias muitas vezes sem asfalto. O sistema ferroviário é uma lenda antiga e não serve para nada assim como nosso incipiente sistema hidroviário. Somos o único país com extensão territorial e hidrografia que não sabe ou não quer se utilizar de ferrovias e embarcações fluviais;
  Ø As fontes de energia alternativas embora tenham sido construídas em bom número como, por exemplo, a eólica, não podem operar cem por cento por falta de conexão entre a fonte e a rede elétrica. Se estivessem em plena operação, estes sistemas poderiam auxiliar a iluminar milhões de residências. Ao invés disso temos o sistema de bandeira amarela, verde e vermelha para nos indicar quase sempre o aumento da conta de energia;
  Ø Quanto desperdício tivemos com os empréstimos a fundo perdidos realizados pelo BNDES a outros países sem que tivéssemos ao menos a garantia de retorno do investimento e de obras que gerassem empregos diretos aos nossos trabalhadores; 
  Ø A Petrobrás perdeu bilhões com o seu departamento de propinas que era uma operação virtual dentro da estrutura da empresa. Perdeu em valores de ações, perdeu negócios e principalmente, perdeu credibilidade que agora tenta recuperar a custa de gastos com publicidade massiva na mídia.
Se somarmos aos casos de má gestão do INSS, CEF, etc., teremos um rombo cada vez maior nas contas públicas, sem contar a folha de pagamento que cresce assustadoramente nos três poderes. Não há controle, discernimento e esforço no sentido de gerir com probidade os recursos que são oriundos dos nossos impostos.
Nesta situação desastrosa, não podemos admitir que os nossos governantes queiram dar ao povo benefícios sem ter recursos e condições para poder suportar financeira e economicamente. Não existe governo grátis, mas sim, governos que promovem políticas sociais e econômicas com diretrizes claras e baseadas em fontes de renda que suportem o aplique dos recursos investidos. Que possuam contra partidas para estes investimentos a serem realizados, quer seja no campo social como no econômico.
Autor: Rafael Moia Filho - Escritor, Blogger e Gestor Público.

2 de dezembro de 2018

Não existem limites para as mordomias no Congresso Nacional!

Não existe um governo corrupto numa Nação ética,
nem há uma Nação corrupta onde exista um governo
ético e transparente” Leandro Karnal.
 
Nos últimos meses a sociedade brasileira tem discutido muito a questão da obscenidade do pagamento para membros da alta corte do Judiciário do Auxilio Moradia, benefício que se estende ao Poder Legislativo mesmo para quem possua residência no mesmo município ou no Distrito Federal.
O assunto veio novamente à tona quando Michel Temer autorizou o pagamento do absurdo aumento salarial auto-concedido pelos membros do STF em 16,3% sobre seus vencimentos. Formando um efeito cascata devastador para a combalida folha de pagamento do poder público.
Entretanto, existe outro benefício ainda mais ignóbil e sem sentido que é o Auxílio Mudança. Pago no começo do mandato dos parlamentares (Deputados Federais e Senadores) e ao final do mandato, caso os manganões não se reelejam. O valor corresponde a um salário bruto, sem descontos de qualquer natureza, que hoje equivale a R$ 33.700,00 (Trinta e três mil e setecentos reais).
Em 2019 quando tomarem posse, 298 parlamentares reeleitos em outubro irão receber esta bolada. Vale ressaltar que mesmo aqueles que estão vivendo no DF, e que se reelegeram, também recebem a mordomia, como se precisassem fazer nova mudança a cada novo mandato. Mais espúrio e indecente impossível! A farra da mudança deixará os cofres mais vazios em cerca de R$ 20 milhões.
Ele deverá ser pago em dobro aos oito senadores e 270 deputados reconduzidos ao cargo, além dos quatro senadores que vão para Câmara e dos 16 deputados que fazem o caminho inverso. Alguns, no entanto, já anunciaram que vão rejeitar o recurso, como é o caso do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Ele protocolou um requerimento de dispensa de recebimento.
Em ambas as Casas, o “penduricalho” está previsto em um decreto de 2014. Os textos não trazem qualquer restrição para deputados e senadores reeleitos receberem duas vezes a ajuda de custo, uma ao deixar o antigo mandato e outra ao assumir o novo. Com isso, os parlamentares que retornam ao Congresso podem levar cada um, um total de R$ 67.526 no início do próximo ano, além do salário e demais auxílios já concedidos, como o auxílio-moradia.
No Senado, ao todo, 54 senadores vão receber o benefício ao final desta legislatura, em 31 de janeiro de 2019, independentemente de terem ou não sido reeleitos para novo mandato. O valor total a ser pago será de aproximadamente R$ 3,6 milhões, sendo que metade (R$ 1,82 milhão) será desembolsada em razão do término dos mandatos e a outra, em função do início do mandato do mesmo número de senadores.
Ao menos três vão abrir mão do benefício. Além de Randolfe, também será o caso do senador José Reguffe (Sem Partido-DF) e do Eduardo Braga (MDB-AM). “Eu fiquei surpreso quando soube desse auxílio. Eu acho que, com a remuneração que se tem, qualquer tipo de benefício desse não se justifica. Não tem lógica”, afirmou Randolfe.
A reportagem procurou os oito senadores reeleitos, mas nem todos responderam se pretendem abrir mão dessa ajuda de custo. Um dos que admitiu que não irá abrir mão da verba é o senador Sérgio Petecão (PSD-AC), que utiliza um apartamento funcional em Brasília. Por meio de sua assessoria de imprensa ele afirmou que não vai abdicar da ajuda de custo porque o benefício é juridicamente respaldado por um decreto.
O senador Ciro Nogueira (PP-PI) também será um dos beneficiados. Quando está em Brasília, ele utiliza uma casa localizada no Lago Sul, uma das regiões mais valorizadas na capital. A residência é paga em parte com auxílio-moradia, mas agora o senador terá também uma ajuda de custo com “mudança”. Questionado por meio de sua assessoria, o senador não retornou os contatos até a conclusão desta edição para dizer se iria se mudar ou se abriria mão do benefício.
Mesmo com moradia garantida no ano que vem no Palácio do Alvorada, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, também tem direito ao benefício no fim do mandato. Ele está licenciado da Câmara desde o dia 8 de outubro e pode renunciar ao cargo de deputado até a véspera da sua posse. Questionada, a assessoria do deputado não informou se ele abriria mão do valor.
Além deste infame “auxílio-mudança”, os deputados também têm direito a verba de gabinete para contratação de pessoal (de R$ 78 mil), auxílio-moradia (de R$ 3.800) e cota parlamentar (que varia de R$ 30,7 mil a R$ 45,6, dependendo do Estado de origem do parlamentar”. Quando o “auxílio-mudança” passou a valer, em fevereiro de 2015, diversos deputados reeleitos e proprietários de imóveis na cidade receberam a ajuda identificada na folha de pagamento como “vantagem indenizatória”. 
Como acreditar em mudanças? Como sonhar com reformas que venham a corrigir distorções graves? Como pensar que o Brasil pode ser passado a limpo enquanto esta escória gananciosa estiver usufruindo de mordomias que os brasileiros que trabalham de verdade por 40 anos não recebem. Depois temos de ouvir discursos demagógicos falando de reforma da previdência que visa solapar o bolso dos aposentados tirando dos trabalhadores seus legítimos direitos.
https://politica.estadao.com.br/blogs/coluna-do-estadao/so-sete-senadores-abrem-mao-do-auxilio-mudanca/

Autor: Rafael Moia Filho - Escritor, Blogger e Gestor Público.

30 de novembro de 2018

O Rio está politicamente podre!

Pezão é o quarto governador consecutivo a terminar nas mãos da Justiça no Rio. Até quando esse Estado será capaz de suportar semelhante vexame público?

Foto Ricardo Moraes - Reuters
O Cristo Redentor, símbolo protetor da maravilhosa cidade do Rio, capital de um dos Estados mais importantes do continente brasileiro, deve estar envergonhado. A corrupção de seus políticos e governantes chegou a tal estágio que tudo parece podre. O governador Pezão, que acaba de ser preso sob a acusação de ter roubado 40 milhões de reais do Estado, passa a fazer companhia ao seu antecessor Cabral, condenado a mais de 100 anos de cadeia.
Pezão é o quarto governador consecutivo a terminar nas mãos da Justiça no Estado do Rio. Até quando esse maravilhoso território dos deuses da cultura e da arte será capaz de suportar semelhante vexame público?
Enquanto as televisões e os jornais davam as imagens da detenção do governador Pezão — que pediu à polícia, impávido, que “o deixassem tomar o café da manhã” antes de levá-lo —, eu pensava em tantos humildes servidores públicos do Rio, de policiais a professores, que estão com os salários atrasados e não conseguem sobreviver, a ponto de alguns deles terem preferido o suicídio. Pensava nas filas às portas dos hospitais sem recursos, nas Universidades públicas endividadas até os olhos, na merenda minguada das crianças pobres das escolas, nas mais de mil favelas abandonadas à violência cruzada do narcotráfico e de tantos policiais vendidos.
Você acha estranho que, quando chega a hora, o cidadão comum, que contempla indefeso toda essa podridão política, opte por soluções-limites de candidatos radicais e pregadores da violência? Não, a culpa de que cresça no Brasil o desejo iconoclasta de acabar com “tudo isso aí” não nasce da índole violenta e irresponsável da gente trabalhadora. Nasce da acumulada frustração do dia a dia com quem a governa e saqueia.
A detenção do quarto governador consecutivo do Estado de Rio, de vários partidos diferentes, revela que é todo o sistema político como tal que está doente, e que esse mar de corrupção não acabará enquanto não for feita uma reforma política drástica que, se não impedir, pelo menos possam frear essa vergonha que sente o cidadão. Esse trabalhador que sai de casa a cada dia, quando não está castigado pelo desemprego, para ganhar honestamente o pão para sua família. Samuel, um desses trabalhadores, que ganha 1.500 reais por mês num trabalho duro, confidenciava-me hoje, vendo as notícias sobre o governador acusado de corrupção, que não conseguia imaginar o que são os 40 milhões que Pezão teria roubado. “Um milhão para mim já é muito difícil de pensar”, dizia-me.
Tem razão. De fato, se fizesse cálculos, para poder ganhar esses 40 milhões, fruto de corrupção pela qual o governador é acusado, meu amigo precisaria trabalhar nada mais e nada menos que dois mil e quinhentos anos. Não, não é demagogia, é dor e injustiça que os pobres acumulam até que acordam do seu pesadelo e dizem chega!
Enquanto isso, os senhores togados do Supremo, que sempre acham pouco o seu salário e demais privilégios, preparavam-se para legitimar um suculento indulto natalino decidido pelo presidente Temer, que permitiria que mais de 20 corruptos, entre políticos e empresários, saíssem da prisão.
Dizem que eles, em seu Olimpo, não têm por que escutar a turma que grita por justiça nas ruas. Para eles, conta só a fria letra da lei. Eles se esquecem que, junto com a garantia dessa letra escrita, existe também o espírito da mesma, que está esculpido com sangue na carne viva dos que perdem o sono por não saberem como pagar as contas do mês ou como comprar um remédio para seu filho doente.
Até quando, Rio?

Autor: Juan Arias – El País

28 de novembro de 2018

Algumas incoerências no sistema educacional!

O resultado mais sublime
da educação é a tolerância.

O sistema educacional brasileiro voltou a ser tema de discussões nas eleições, não com projetos, mas sim com a adoção do famigerado Projeto Escola sem Partido. Uma discussão incoerente e os números comprovam que precisamos combater o analfabetismo puro e o funcional, a evasão escolar, as péssimas condições de ensino em milhares de salas de aulas espalhadas pelo país, à correta distribuição de merenda escolar, enfim, são muitos os assuntos que deveriam estar precedendo a discussão do projeto.
No começo da gestão FHC - PSDB (1995-2002), foi implantado o Fundef (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério) que destinava 60% dos seus recursos para aumentar os salários dos professores. A constatação é que a qualidade da educação brasileira caiu.
No governo Lula – PT (2003-2010) foi criado o Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais de Educação) que manteve apesar da mudança do nome o mesmo percentual destinado ao aumento dos salários dos professores, ou seja, sessenta por cento do total dos recursos, porém a qualidade da educação continuou a despencar.
Na medicina se um paciente não melhora com um remédio receitado o médico troca a dosagem ou o medicamento. Na nossa política quando o assunto é educação, a realidade dos fatos são ignoradas em nome da teoria ou do projeto político partidário. Com isso, o que menos importa é o resultado, levando por analogia o paciente à morte.
Um grande erro cometido pelos nossos governantes é entender que investir muito dinheiro é sinônimo de melhoria na educação. Isso é uma grande falácia, e os exemplos de países desenvolvidos e bem sucedidos provam a tese.
A Coreia do Sul entre 1970-90, gastou cerca de 3,5% do PIB Produto Interno Bruto em educação, a Irlanda: 5,6%, China: 2,3%, Hong Kong: 2,8%, Reino Unido: 4,9%. Enquanto isso no mesmo período alguns países gastaram mais do que 7% do seus PIB’s em educação, são eles: Quênia, Namíbia, Suriname, Seycheles, Barbados, Azerbaijão, Jordânia, Mongólia (Que gastou 12,9% do PIB). Desnecessário comentar a diferença do sistema educacional dos países do primeiro grupo com os do segundo grupo que apesar de gastarem mais, nunca chegaram próximos dos resultados dos primeiros.
As questões a serem discutidas antes dos governantes, dos congressistas e o do futuro ministério da educação tomarem posse, deveriam passar longe do Projeto Escola sem Partido, Controle de Professores e aumento de investimento em educação. A lição de casa tem de ser feita começando por:
- A melhoria das escolas que estão caindo aos pedaços, inclusive no Estado de São Paulo;
- O preparo adequado com investimentos em capacitação de professores, diretores e funcionários. Falta de preparo não se resolve com maiores salários nem provoca a melhoria da motivação;
- Valorização dos profissionais da Educação com salários compatíveis com a importância da sua função para o país;
- Inibir a violência dentro e fora das salas de aula, protegendo os profissionais envolvidos com a educação e o patrimônio público;
- Dar totais condições de trabalho e clareza nos programas educacionais. Inclusive com a discussão de uma nova base do currículo escolar.
        O Brasil gasta mais do que 70% dos seus recursos educacionais com salários dos professores. É preciso antes de pensar em gastar mais, saber como gastar melhor. A educação precisa passar por uma revolução, se reinventando dentro e fora das salas de aulas. É preciso mais disciplina e melhores condições de trabalho para todos os envolvidos.
Discussões ideológicas baratas com toda certeza não vão levar o Brasil para o futuro que seus jovens merecem, mas sim, estagnar e comprometer de uma vez por todas a capacidade de aprendizado e colocação no mercado de trabalho de uma ou duas gerações.
Autor: Rafael Moia Filho - Escritor, Blogger e Gestor Público.