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24 de abril de 2017

A queda dos principais tucanos é ruim para o PSDB, um partido de quadros!


A delação da Odebrecht quebrou todos os grandes caciques do PSDB. Aécio, Alckmin e Serra foram delatados. Como em todos os casos, as denúncias ainda precisam ser investigadas, mas é difícil imaginar um presidenciável em 2018 com essa bagagem (com a possível exceção desse aí que você pensou). O PSDB nunca foi, como o PT, um partido de movimentos: era um partido de grandes quadros. A queda de seus principais nomes é, portanto, especialmente ruim para os tucanos. Quando um partido de quadros começa a levar João Dória a sério é porque as coisas vão bem mal.
Será uma pena se o PSDB acabar, e digo isso como alguém que votou contra os tucanos desde sempre. Como já escrevi uma vez aqui na "Ilustríssima", o PSDB foi o grande condutor da centro-direita brasileira em direção à democracia moderna. Era um partido de opositores da ditadura, derrotou a hiperinflação e, em 1994, conquistou a única vitória indiscutível, categórica, de craque, da direita brasileira em uma eleição presidencial.
A mesma direita deveria ter levado em conta, nos pleitos seguintes, que nem sempre as exigências da macroeconomia e da distribuição de renda coincidiriam tão perfeitamente quanto em 1994. Mas isso é outra história.
As origens social-democratas do PSDB não prevaleceram no desenvolvimento posterior do partido, mas deixaram sua marca. O governo FHC teve bons resultados na educação básica e na redução da mortalidade infantil e nunca teve aqueles deslumbramentos de mercado que muitos países tiveram nos anos 1990 (incluídos, aí, os países ricos que desregulamentaram seus mercados financeiros).
Se você duvida do papel histórico fundamental desempenhado pelos tucanos na história brasileira, olhe para o resto de nossa direita. Há no DEM quadros qualificados, mas inteiramente dedicados a defender seus interesses de classe, como Ronaldo Caiado. E daí para lá não há quem consiga dizer qual das suas pernas é a direita em duas tentativas, já descontados aqui os que perguntariam "dianteira ou traseira?".
Não há nada em nenhuma vertente do pensamento de direita, seja liberal ou conservador, que faça o sujeito ser burro, muito pelo contrário. Mas o que faz a direita brasileira ser esse negócio que faria Adam Smith ou Edmund Burke entrarem para o PSOL é o histórico de viradas de mesa em seu favor.
Se na hora do aperto for possível chamar o Exército ou os corruptos do PMDB para resolverem a parada, ninguém vai se preocupar em produzir líderes e intelectuais capazes de vencer na democracia. Ninguém aprende a brigar se sempre puder chamar o irmão mais velho.
Não é por acaso, portanto, que o auge da direita democrática brasileira tenha se dado sob a liderança de um partido desgarrado da esquerda, que aprendeu, no combate à ditadura, o peso de falar como líder. A velha direita brasileira não foi formada para ser líder, foi feita para puxar saco de general.
Na introdução de seus "Diários da Presidência" (Companhia das Letras), Fernando Henrique Cardoso lamenta que seu projeto de modernização tenha sido feito em aliança com o atraso.
O PT poderia dizer a mesma coisa, e as denúncias recentes mostram que ambos se deixaram colonizar pelo atraso muito mais do que gostam de admitir. O problema é que, desde que PT e PSDB entraram em declínio, o atraso governa cada vez mais sozinho. 

Autor: Celso Rocha de Barros - Doutor em Sociologia pela Universidade de Oxford. Texto publicado na Folha de SP - 24/04/17

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