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21 de abril de 2016

Coincidências, apenas e tão somente coincidências?

Não há nada bom nem mau a não ser estas duas coisas:
a sabedoria que é um bem e a ignorância que é um mal.
 
Pela segunda vez em 25 anos no Brasil A Câmara dos Deputados votou a favor da admissibilidade do impeachment de um presidente, encaminhando o processo de afastamento para o Senado.
Por uma infeliz coincidência o membro da casa que deu o voto favorável nº 342, mínimo para admitir o processo, foi o deputado Bruno Araújo - PSDB, mencionado em um documento que demonstra que ele teria recebido fundos ilegais de uma das principais empreiteiras envolvidas no atual escândalo de corrupção do país. O PSDB, cujos candidatos perderam quatro eleições seguidas contra o PT, sendo a última delas há apenas 18 meses atrás, quando 54 milhões de brasileiros votaram pela reeleição de Dilma como presidente.
Quando temos certeza que membros do governo próximos ou não da presidência são arrolados em crimes de corrupção ativa e passiva e que 60% dos membros da Câmara Federal são ou serão réus em operações da Polícia Federal e da Justiça brasileira, percebemos a natureza surreal e sem precedentes do processo que ocorreu ontem em Brasília, capital do quinto maior país do mundo.
 O mais estranho é que o crime pelo qual a presidente está sendo julgada, sempre foi utilizado impunemente pelos seus antecessores, governadores de Estado e até por seu vice presidente Michel Temer, que por enorme coincidência não está arrolado no processo de impeachment.
O processo de admissibilidade foi presidido por um dos políticos mais descaradamente corruptos do mundo democrático, o presidente da Câmara Eduardo Cunha que teve milhões de dólares sem origem legal recentemente descobertos em contas secretas na Suíça, e que mentiu sob juramento ao negar, para os investigadores no Congresso, que tinha contas no estrangeiro.
Claro que o fato do Congresso Nacional abrigar entre seus 594 membros da Câmara, “318 estão sob investigação ou acusados” enquanto o alvo deles, a presidente Dilma, “não tem nenhuma alegação de improbidade financeira” não absolve a péssima gestão petista nos últimos anos.
É muito provável que o Senado vá concordar com as acusações, o que resultará na suspensão de 180 dias de Dilma como presidente e a instalação do governo pró-negócios do vice-presidente, Michel Temer, do PMDB.
Se, depois do julgamento, dois terços do Senado votarem pela condenação, Dilma será removida do governo permanentemente. Muitos suspeitam que o principal motivo para o impeachment de Dilma é promover entre o público uma sensação de que a corrupção teria sido combatida, tudo projetado para aproveitar o controle recém adquirido de Temer e impedir maiores investigações sobre as dezenas de políticos realmente corruptos que integram os principais partidos.
Outra coincidência aconteceu no dia seguinte à votação na Câmara, quando o Senador do PSDB de SP, Aloysio Nunes Ferreira viajou para Washington para participar de três reuniões com várias autoridades americanas, além de lobistas e pessoas influentes junto a Bill Clinton e outras influentes lideranças daquele país.
A Embaixada Brasileira em Washington e o gabinete do Sen. Nunes disseram que não tinham maiores informações a respeito dos motivos da viagem do Senador. Aloysio Nunes é uma figura destacada da oposição, tendo concorrido na chapa derrotada do PSDB à Presidência em 2014.
E quase não é necessário dizer que o Senador Aloysio Nunes também foi apontado em denúncias de corrupção; em setembro/2015, um juiz ordenou uma investigação criminal após um informante, executivo de uma empresa de construção, declarar a investigadores ter oferecido R$ 500.000 para financiar sua campanha — R$ 300.000 enviados legalmente e mais R$ 200.000 em propinas ilícitas de caixa dois — para ganhar contratos com a Petrobras. E essa não é a primeira acusação do tipo contra ele.
Se somarmos a este fato isolado que recentemente o também senador do PSDB-SP José Serra propôs e conseguiu a aprovação no Senado de um Projeto de Lei que desobriga participação da Petrobras em todos os consórcios do pré-sal. Projeto de lei que agora segue para analise da Câmara dos Deputados.
A proposta retira da Petrobras a exclusividade das atividades no pré-sal e acaba com a obrigação da estatal de participar com pelo menos 30% dos investimentos em todos os consórcios de exploração da camada. O projeto é de autoria do senador José Serra (PSDB-SP) e foi relatado pelo senador Ricardo Ferraço (sem partido-ES).
"Esse projeto acaba com a política de controle nacional. A Petrobras deixar de ser a operadora única do pré-sal é um desastre. Nós estamos entregando a preço de banana, US$ 30 o preço do barril. Nós descobrimos o pré-sal e vamos entregar de bandeja?", protestou o senador Lindbergh Farias (PT-RJ).
Estes fatos precisam ser entendidos pela sociedade que deve ficar muito atenta ao comportamento dos políticos que agora compõe o grupo de apoio a Michel Temer, entre eles o PSDB e o DEM. Essa tendência neoliberal dos tucanos pode ser a marca de uma futura gestão Temer até 2018, caso a Justiça não consiga provar sua efetiva participação em processos da Operação lava Jato. Dois impeachments seria muita coincidência para um país só no mesmo ano.

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